Atualmente, muitas pessoas acham que, no primeiro século, todos os discípulos de Yeshua eram chamados de “cristãos”, e que estes criaram uma nova religião, chamada de Cristianismo. Ledo engano.
Inicialmente, todos os discípulos de Yeshua eram conhecidos como netsarim ou nasraye [1] (nazarenos), conforme o texto de Atos 24:5. Tanto judeus quanto gentios estavam unidos em um só corpo, alcunhados de nazarenos. Somente na cidade de Antioquia é que os discípulos foram chamados de “cristãos” pela primeira vez (Atos 11:26), e isto por volta dos anos 40 a 60 D.C [2]. Enquanto em Antioquia os seguidores do Messias foram apelidados de “cristãos”, em todos os outros lugares se manteve o nome original: netsarim ou nasraye (nazarenos).
Segundo as lições do erudito Ray A. Pritz, da Universidade de Jerusalém, judeus e gentios crentes em Yeshua eram conhecidos como “nazarenos” (netsarim), e somente muito tempo depois houve uma distinção terminológica entre nazarenos e cristãos (Nazarene Jewish Christianity, The Magnes Press, The Hebrew University, 1992, páginas 15 a 17).
Se no passado judeus e gentios eram chamados de “nazarenos” (netsarim/nasraye), esta situação mudou e se passou a fazer a seguinte diferenciação de nomenclatura:
1) os nazarenos, que eram judeus crentes em Yeshua HaMashiach (hebraico: netsarim; aramaico: nasraye = nazarenos);
2) os cristãos, setor constituído por gentios crentes em Yeshua.
Netsarim (nazarenos) e cristãos estavam unidos e tinham plena comunhão, frequentando sinagogas e congregações judaicas, já que até então ainda não existiam Igrejas.
Em Ma’assei Sh’lichim (Atos dos Emissários, “Apóstolos”), capítulo 15, há uma discussão acerca do relacionamento entre gentios e judeus. Na ocasião, Ya’akov (Tiago) estabelece uma série de recomendações aos gentios e prescreve:
ܡܽܘܫܶܐ ܓ݁ܶܝܪ ܡ݂ܶܢ ܕ݁ܳܪ̈ܶܐ ܩܰܕ݂ܡܳܝ̈ܶܐ ܒ݁ܟ݂ܽܠ ܡܕ݂ܺܝܢܳܐ ܐܺܝܬ݂ ܗ݈ܘܳܐ ܠܶܗ ܟ݁ܳܪ̈ܽܘܙܶܐ ܒ݁ܰܟ݂ܢܽܘܫܳܬ݂̈ܳܐ ܕ݁ܰܒ݂ܟ݂ܽܠ ܫܰܒ݁ܺܝ̈ܢ ܩܳܪܶܝܢ ܠܶܗ
“Porque Moshé, desde as primeiras gerações, tem em toda cidade arautos nas sinagogas, que o leem em todos os shabatot (sábados)” (Atos 15:21, tradução do aramaico).
No texto transcrito, identificam-se três importantes dados: 1) judeus e gentios se reuniam em cada shabat (sábado); 2) eles estudavam a Lei (Torá) de Moshé/Moisés; 3) estavam reunidos nas sinagogas (e não nas igrejas). Estes três elementos indicam que judeus e gentios praticavam o Judaísmo!
O Cristianismo, como se verá adiante neste livro, foi difundido por Inácio de Antioquia (o “Santo” Inácio católico), dentre outros “Pais da Igreja”, e é contrário às primeiras práticas dos emissários (“apóstolos”) de Yeshua. Eis o Cristianismo de Inácio: 1) determina a reunião no domingo; 2) ensina que a Lei (Torá) de Moshé (Moisés) foi abolida pelo Novo Testamento; 3) ordena a reunião em Igrejas. Estes três ensinos são totalmente antagônicos àquelas 3 (três) características extraídas de Atos 15:21, conforme visto no parágrafo anterior.
Curial sublinhar: tanto os primeiros emissários (“apóstolos”) quanto os primeiros discípulos de Yeshua foram judeus, ingressando posteriormente na comunidade os gentios, e todos eles eram chamados de netsarim ou nasraye (nazarenos). Somente tempos depois, conforme Atos 11:26, os discípulos gentios passaram a ser chamados de “cristãos” por aqueles que falavam a língua grega.
Nazarenos e cristãos estavam unidos e praticando o Judaísmo ensinado por Yeshua, razão pela qual se congregavam em cada shabat (sábado) para estudar a Torá (“Lei”) de Moshé (Moisés) nas sinagogas (Atos 15:21).
Provar-se-á, aqui e agora, que biblicamente os talmidim de Yeshua eram conhecidos como netsarim ou nasraye (nazarenos).
Quando Sh’aul (Paulo) estava sendo acusado perante o Governador Félix, seus inimigos formularam a seguinte acusação:
ܐܶܫܟ݁ܰܚܢ ܓ݁ܶܝܪ ܠܓ݂ܰܒ݂ܪܳܐ ܗܳܢܳܐ ܕ݁ܺܐܝܬ݂ܰܘܗ݈ܝ ܡܫܰܚܛܳܢܳܐ ܘܰܡܥܺܝܪ ܫܓ݂ܽܘܫܝܳܐ ܠܟ݂ܽܠܗܽܘܢ ܝܺܗܽܘܕ݂ܳܝ̈ܶܐ ܕ݁ܰܒ݂ܟ݂ܽܠܳܗ݁ ܐܰܪܥܳܐ ܪܺܫܳܐ ܗ݈ܘ ܓ݁ܶܝܪ ܕ݁ܝܽܘܠܦ݁ܳܢܳܐ ܕ݁ܢܳܨܪ̈ܳܝܶܐ
“Temos achado que este homem é um corruptor, e desperta rebelião entre todos os judeus em toda a terra, pois é líder do ensinamento dos nazarenos” (Atos 24:5, tradução do aramaico).
Sha’ul (Paulo) rebateu a acusação de que seria um agitador, porém, não negou que seria um dos líderes do grupo conhecido como Nazarenos ou “o Caminho”:
“Entretanto, isto eu [Sh’aul/Paulo] admito: adoro o Elohim de nossos pais, de acordo com o Caminho (ao qual eles chamam seita). Continuo a crer em todas as coisas de acordo com a Torá [Lei] e todos os escritos dos Profetas.” (Ma’assei Sh’lichim/Atos 24:14).
Antes de Sha’ul (Paulo) reconhecer que Yeshua é o Mashiach, perseguia os discípulos do Salvador, conhecidos como membros “do Caminho”:
“Sha’ul [Saulo/Paulo], respirando ainda ameaças de morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote e lhe pediu cartas para as sinagogas de Dammesek [Damasco], a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levassem presos para Jerusalém.” (Ma’assei Sh’lichim/Atos 9:2).
Logo, verifica-se que os primeiros discípulos de Yeshua eram chamados de netsarim (nazarenos) ou simplesmente membros do Caminho (At 9:2, 24:5,14 e 19:9,23). A este respeito, giza o rabino James Scott Trimm:
“O termo ‘o Caminho’ é usado para descrever os crentes em Atos 9:2 e em Atos 22:4 (que na verdade recapitula os eventos de Atos 9:2).
(…)
Este termo [‘o Caminho’] é usado como uma alternativa ao nome ‘Nazarenos’ em Atos 9:2; 19:9; 19:23; 22:4 24:5,14.” (Hebraic Roots Commentary to Acts, Worldwide Nazarene Assembly of Elohim, 2010, páginas 64 e 65).
Em Atos 24:5 e 14, os opositores de Yeshua diziam que os Nazarenos ou do Caminho representavam uma seita [3] do Judaísmo, porém, em verdade, o Judaísmo Nazareno ou do Caminho é o ensino bíblico praticado pelos primeiros talmidim (discípulos) de Yeshua. Este judaísmo nada tem que ver com o atual Judaísmo rabínico, que é corolário dos ensinamentos da maioria dos p’rushim (fariseus), estes tão criticados por Yeshua.
Importa consignar que os netsarim (nazarenos) formavam mais um dos tantos grupos existentes do Judaísmo do primeiro século, ou seja, não faziam parte do Cristianismo, que somente veio a surgir tempos depois. Confira o escólio do pesquisador e aramaicista Andrew Gabriel Roth:
“Netsarim é uma seita dentro da categoria mais ampla do Judaísmo.” (Aramaic English New Testament, Netzari Press, 4ª edição, página 380).
A História comprova que, no período do Segundo Templo, a religião judaica, com seus inúmeros grupos e subgrupos, era conhecida como Judaísmo (ex: Gl 1:13 e 14), e os seguidores de Yeshua eram chamados de Netsarim/Nazarenos (At 24:5), ou “do Caminho” (At 9:2, 24:5,14 e 19:9,23). Destes dados históricos e bíblicos, extrai-se o nome Judaísmo Nazareno, ou Judaísmo do Caminho.
Define-se Judaísmo Nazareno como o ramo do Judaísmo cujos ensinos, doutrinas e práticas foram vivenciados por Yeshua HaMashiach e seus primeiros talmidim (discípulos).
Yeshua não veio para fundar uma nova religião, mas sim para ensinar o Judaísmo de acordo com as Escrituras.
Aquele que segue Yeshua HaMashiach deve vivenciar o Judaísmo por ele lecionado, tomando muito cuidado com as atuais práticas do Judaísmo, visto que muitas delas estão impregnadas de elementos antibíblicos. Muitas pessoas, quando descobrem que Yeshua era judeu e seguia o Judaísmo, terminam por abraçar indiscriminadamente todos os costumes judaicos, sem maior análise crítica, o que é totalmente insensato. A uma, porque o Judaísmo moderno está distante daquele praticado pelos discípulos de Yeshua. A duas, porque o Judaísmo moderno está fundado no pensamento farisaico, fortemente combatido por Yeshua. A três, porque o Judaísmo moderno segue mais a tradição do que a própria Torá. A quatro, porque o Judaísmo moderno incorporou elementos e ritos pagãos.
Tais críticas são estendidas a certos grupos (e não todos) do Judaísmo Messiânico, que não estão imunes aos erros e, em muitos casos, preferem colocar os ensinos rabínicos acima das Escrituras.
Por conseguinte, este livro estará focado única e exclusivamente nas práticas bíblicas dos netsarim (nazarenos), os autênticos seguidores do Mashiach (Messias).
E os cristãos? Onde se enquadram?
O texto em aramaico de Ma’assei Sh’lichim/Atos 11:26 é esclarecedor:
ܘܟ݂ܰܕ݂ ܐܶܫܟ݁ܚܶܗ ܐܰܝܬ݁ܝܶܗ ܥܰܡܶܗ ܠܰܐܢܛܺܝܳܟ݂ܺܝܰܐ ܘܫܰܢ݈ܬ݁ܳܐ ܟ݁ܽܠܳܗ݁ ܐܰܟ݂ܚܕ݂ܳܐ ܟ݁ܢܺܝܫܺܝܢ ܗ݈ܘܰܘ ܒ݁ܥܺܕ݈݁ܬ݁ܳܐ ܘܰܐܠܶܦ݂ܘ ܥܰܡܳܐ ܣܰܓ݁ܺܝܳܐܐ ܡ݂ܶܢ ܗܳܝܕ݁ܶܝܢ ܩܰܕ݂ܡܳܝܰܬ݂ ܐܶܬ݂ܩܪܺܝܘ ܒ݁ܰܐܢܛܺܝܳܘܟ݂ܺܝ ܬ݁ܰܠܡܺܝܕ݂̈ܶܐ ܟ݁ܪ̈ܺܣܛܝܳܢܶܐ
“E quando o encontrou, levou-o com ele para Antioquia. E durante todo o ano se reuniram conjuntamente com a congregação, e ensinaram a muitos do povo. A partir desse momento, pela primeira vez os discípulos foram chamados de “cristãos” [Kristiane], em Antioquia”.
Há algo surpreendente na passagem transcrita: no meio do Manuscrito em aramaico aparece a transliteração da palavra grega “cristão”. Isto causa estranheza, pois seria o mesmo que, em um texto em inglês, constasse uma palavra em japonês. Qual seria a explicação para a inserção de um vocábulo grego em uma epístola escrita em aramaico? A resposta é simples: em Antioquia, os discípulos gentios falavam grego e receberam o nome de “cristãos” (grego), que significa “aqueles que seguem Cristo”. Por sua vez, a palavra grega “Cristo” significa “o Ungido”. Obviamente, pessoas que falavam grego usariam um termo em sua própria língua – “cristão”. Em conclusão, percebe-se que o vocábulo “cristão” foi originariamente aplicado aos seguidores gentios de Yeshua, falantes da língua grega, permanecendo o nome “netsarim” ou “nasraye” (nazarenos) para os discípulos judeus, que se comunicavam em hebraico ou aramaico.
Ministra Andrew Gabriel Roth:
“Os Shlichim/Apóstolos não chamavam a si próprios de ‘kristyane’ (cristãos). Os Shlichim eram membros do Caminho, designados de Netsarim (Atos 24:5, 12-14). Os gentios em Antioquia foram cunhados com a palavra ‘kristyane’, um termo grego para ‘messiânicos’.” (Aramaic English New Testament, Netzari Press, 4ª edição, página 338).
David Stern também reconhece que a palavra “cristão” foi usada apenas para os crentes gentios, enquanto os judeus eram conhecidos como ‘o Caminho’:
“Penso que o nome ‘Chistianoi’ [cristãos] foi aplicado aos crentes gentios por não-crentes gentios. Por quê? Porque os cristãos judeus teriam designado seus irmãos gentios de fé pelo mesmo termo que usavam para designar a si mesmos: ‘povo que pertence ao Caminho’.” (Comentário Judaico do Novo Testamento, editora Atos, 2008, página 291).
Logo, se inicialmente judeus e gentios eram chamados de nazarenos, em momento posterior houve a distinção dos crentes em Yeshua: 1) judeus, chamados de netsarim/nasraye (“nazarenos”) ou “do Caminho”; e 2) gentios, alcunhados de “cristãos”.
No livro de Atos, nazarenos e cristãos viviam em comunhão, sendo que a liderança era exercida pelos emissários (“apóstolos”), todos judeus, ou seja, nazarenos. Esta harmonia entre judeus e gentios chegou ao fim quando o gentio Inácio de Antioquia, não concordando com a liderança judaica dos nazarenos, criou uma rebelião nas congregações e dividiu os dois grupos, por volta do ano 98 D.C. A partir daí, Inácio afirma que os seguidores de Yeshua deveriam abandonar o Judaísmo, religião praticada pelos nazarenos, e seguir a religião por ele criada – o Cristianismo.
A nova religião, o Cristianismo, começou a florescer no início do segundo século e culminou com a instituição da Igreja Católica Romana no século IV.
Ora, se os netsarim (nazarenos) e os primeiros cristãos eram adeptos do Judaísmo, conclui-se com facilidade que o Cristianismo, oficializado pelo Catolicismo Romano, não representa a religião praticada pelos originais seguidores de Yeshua. Por sua vez, o protestantismo e as atuais denominações evangélicas também não expressam a fé original (salvo raras exceções), visto que seguem inúmeras práticas e dogmas estabelecidos pela Igreja Católica, tais como:
1) a substituição do shabat (sábado) pelo domingo;
2) a abolição das festas bíblicas (Vayikrá/Levítico 23), substituindo-as pelas festas pagãs (ex: celebração da páscoa em data coincidente com a páscoa católica, e não com a data determinada nas Escrituras; o Natal em 25 de dezembro, cuja origem está no paganismo, ressaltando-se que a Bíblia não indica o dia de nascimento do Salvador; etc);
3) a falsa ideia de que a “Lei foi abolida”;
4) a teologia da substituição, que defenda a substituição de Israel pela Igreja nos planos do ETERNO.
Vamos parar por aqui, mas as denominações evangélicas seguem dezenas e dezenas de preceitos errôneos e que têm origem no Catolicismo Papal.
Como asseverado linhas atrás, os nazarenos ou do Caminho eram praticantes do Judaísmo e assim permaneceram, não mudando a fé original, ainda que vitimados pela rebelião gentílica de Inácio ao criar uma nova religião – o Cristianismo.
Após esta rebelião e a separação entre judeus e gentios, os israelitas fiéis a Yeshua permaneceram com o nome de netsarim (nazarenos) ou do Caminho, enquanto os gentios mantiveram o título de cristãos.
No século IV, estruturou-se o Cristianismo como religião oficial, por meio do Catolicismo Romano, ensejando perseguição a pessoas de outras crenças. Então, algo totalmente contraditório ocorreu: os cristãos, que no passado eram amigos e liderados pelos nazarenos, começaram a persegui-los e exterminá-los, isto é, pessoas que se diziam discípulas de Yeshua (os cristãos) condenavam e martirizavam os nazarenos, os primeiros seguidores do Mashiach. Irmão assassinando irmão em nome da nova religião! Cumpriu-se, então, a profecia de Yochanan (João) de que os falsos profetas sairiam de dentro da própria comunidade de discípulos:
“Eles saíram de dentro de nós, mas não eram parte de nós; porque se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco” (Yochanan Álef/1ª João 2:19).
Os netsarim (nazarenos) foram muito perseguidos pelo Império Romano, que exterminou grande parte do grupo e de seus escritos, razão pela qual existem poucas fontes históricas subscritas pelos próprios nazarenos a respeito de si próprios, excetuando-se os Ketuvim Netsarim (Escritos Nazarenos, conhecidos incorretamente como “Novo Testamento”). Não obstante, além da descrição fiel dos netsarim (nazarenos) no “Novo Testamento”, há relatos históricos produzidos por seus inimigos, geralmente depreciando os discípulos de Yeshua. De qualquer forma, tais registros históricos são importantes para se entender quem eram, o que pensavam e como agiam os nazarenos.
Epifânio de Salamina, um dos “Pais” da Igreja Católica que viveu no final do século IV D.C, escreveu uma obra em que criticou os nazarenos. Para Epifânio, os nazarenos seriam hereges. Contudo, sabemos com toda certeza que os primeiros discípulos de Yeshua não foram ímpios, mas sim homens tementes ao ETERNO. Eis o relato de Epifânio:
“Os nazarenos não diferem essencialmente dos outros [referindo-se aos judeus ortodoxos], pois praticam os mesmos costumes e as mesmas doutrinas prescritas pela Lei judaica [a Torá], com a diferença que eles [os nazarenos] creem no Messias [Yeshua].
Eles [os nazarenos] creem na ressurreição dos mortos e que o universo foi criado por Deus. Eles afirmam que Deus é um, e que Jesus Cristo [Yeshua HaMashiach] é Seu Filho.
Eles [os nazarenos] são bem versados na língua hebraica. Leem a Lei [referindo-se à Lei de Moisés]…
Eles são diferentes dos judeus e diferentes dos cristãos, apenas no seguinte: eles discordam dos judeus porque chegaram à fé no Messias; mas são distintos dos verdadeiros cristãos porque praticam os ritos judaicos da circuncisão, a guarda do sábado, e outros.” (En Contra de las Herejías, Panarion 29, 7).
Verifica-se no texto que Epifânio faz uma diferenciação entre os nazarenos e os cristãos. Todavia, importante lembrar que Epifânio foi um dos grandes protagonistas do estabelecimento das doutrinas da Igreja Católica Romana no século IV. Assim, os cristãos, elogiados por Epifânio, eram aqueles que seguiam o Catolicismo Romano, enquanto os nazarenos (netsarim) eram aqueles que se recusaram a aceitar a autoridade da Igreja Católica gentílica.
Interessante registrar que Epifânio considerava os nazarenos como hereges. Ora, será que um “pai” da Igreja Católica Romana tem autoridade para desmerecer os nazarenos, discípulos originais de Yeshua?
Marcel Simon, especialista em História do Cristianismo no primeiro século, tece as seguintes considerações a respeito das declarações de Epifânio:
“Eles [referindo-se aos nazarenos] se caracterizam essencialmente por seu forte apego aos costumes judaicos.
Se eles são hereges na opinião da Mãe Igreja [Católica], é apenas porque continuam apegados a ideias antigas.
Eles [os nazarenos] representam, embora Epifânio categoricamente não admita, os verdadeiros e diretos descendentes da comunidade primitiva [dos apóstolos], a qual nosso autor [Epifânio] sabe muito bem que foi chamada com o mesmo nome dos Nazarenos.” (Judeo-cristianismo, pg. 47-48).
Reflita sobre a assertiva transcrita acima: os nazarenos eram os “verdadeiros e diretos descendentes” dos apóstolos!
Este é motivo pelo qual nós seguimos o Judaísmo Nazareno ou Judaísmo do Caminho: os nazarenos representam a fé original dos primeiros discípulos de Yeshua.
Infere-se daí que os dogmas hoje reinantes em quase todos os setores do Cristianismo são falsos: 1) a substituição do shabat (sábado) pelo domingo; 2) a abolição das festas bíblicas; 3) a instituição de festas pagãs (Natal, Ano Novo etc); 3) a concepção de que a Lei (Torá) foi abolida; 4) o pensamento de que a Graça substitui a Lei (Torá); 5) a propagação de que a Igreja substituiu Israel nos planos de YHWH.
Insta repetir: os nazarenos não fundaram o Cristianismo, visto que Yeshua não veio criar uma nova religião.
Confira-se o magistério do historiador Justo Gonzales em sua obra História do Cristianismo:
“… Não pensem que eles [os nazarenos] pertenceram a uma nova religião. Eles eram judeus, e a única diferença que os separavam do restante é que eles acreditavam que o Messias havia chegado, enquanto os demais judeus ainda aguardavam a vinda do Messias”.
Assim, se os nazarenos não instituíram uma nova religião, conclui-se que eles praticaram o Judaísmo ensinado por Yeshua, conhecido como “seita” dos Nazarenos ou “o Caminho” (Ma’assei Sh’lichim/Atos 24:5 e 14). Em vários capítulos deste livro, demonstrar-se-á à luz da Bíblia como era o Judaísmo pregado por Yeshua e praticado por seus emissários (“apóstolos”). Agora, faz-se mister trazer à baila alguns dados históricos sobre os nazarenos.
Artigo extraído do livro “Judaísmo Nazareno: o Caminho de Yeshua e de seus Talmidim” (Tsadok Ben Derech)
Notas:
[1] Hebraico: Netsarim. Aramaico: Nasraye.
[2] Neste sentido, confira Nazarene Jewish Christianity, de Ray A. Pritz, The Magnes Press, The Hebrew University, 1992, página 15, nota de rodapé nº 18.
[3] “Seita” tem o sentido de grupo ou facção. Assim, o Judaísmo Nazareno era um dos muitos grupos do Judaísmo.