PARTE VI: Corrigindo ideias equivocadas

PARTE VI: Corrigindo ideias equivocadas

Por Tsadok Ben Derech

 

Os defensores da Trindade alegam que existem vários versículos que falam do Pai e do Filho, o que apontaria para a existência de 2 (duas) pessoas diferentes (ex: Rm 1:1, 7; I Co 1:1, 2; Gl 1:1; Ef 2:6 etc), enquanto alguns textos falam do “Espírito Santo”, que seria a terceira pessoa da Trindade (ex: Jo 14:26; I Co 12:1-3; II Co 13:14 etc).

Como visto, a Bíblia nunca falou em “pessoas” para se referir ao ETERNO, e nem usou o vocábulo “trindade”. Pelo contrário, prescreveu que somente existe 1 (um) Elohim, o Criador dos céus e da terra (Devarim/Deuteronômio 6:4; Yochanan Marcus/Marcos 12:29). Então, por tudo o que foi lecionado, fica claro que todos os textos que falam do Pai e do Filho estão se referindo a duas k’numeh do ETERNO, e não a duas pessoas distintas.

Temos que entender, ainda, que Yeshua veio ao mundo como homem e, consequentemente, sentiu fome, sede, dor e demais sensações terrenas. Como pessoa de carne e osso, Yeshua teve uma natureza humana, apesar de possuir elohut (“divindade”/natureza divina). Daí, quando Yeshua orava ao Pai, não estava entrando em contato com outra pessoa, mas sim a natureza humana de Yeshua buscava conectar-se com a k’numah do Pai.

Muitas pessoas se confundem e não compreendem vários versículos pelo simples fato de esquecerem que Yeshua encarnou como homem mortal e, em resultado, teve fraquezas e passou por tentações em todas as áreas, com a diferença de que nunca pecou (Ivrim/Hebreus 4:15).

Quando as Escrituras demonstram que o Filho aprendeu a obedecer (Ivrim/Hebreus 5:8) e que fazia a vontade daquele que o enviou (Yochanan/João 6:38), isto não significa que a Bíblia está mencionando duas pessoas diferentes (o Pai e o Filho). Em verdade, Yeshua, enquanto homem, submeteu-se a YHWH Pai.

De igual modo, no verso em que o Mashiach diz que “o Pai é maior do que Eu” (Yochanan/João 14:28), temos o homem Yeshua falando de YHWH, duas k’numeh entrando em contato uma com a outra. Tal versículo não demonstra que o Pai é superior ao Filho, já que ambos são YHWH. Quer dizer o texto que o Messias, em sua condição humana, é inferior ao Pai. Porém, sob o aspecto da elohut (“divindade”), inexiste hierarquia entre Pai e Filho, já que estes não são duas pessoas, mas o mesmo YHWH.

Há quem diga, erroneamente, que YHWH é um Ser Superior e que Yeshua seria seu Filho, uma divindade inferior e subordinada ao Pai. Para esta concepção, Yeshua está acima dos homens e debaixo de YHWH, sendo o Mashiach “um elohim” com poderes reduzidos e limitados pelo Pai. Propaga esta enganosa teoria que Yeshua não é onisciente e que não pode ser adorado, por tratar-se de “elohim” subalterno. Tal teoria é manifestamente contrária às Escrituras, pois descreve Yeshua como sendo um “subdeus” ou “semideus”, pensamento este que é influenciado pela cultura greco-romana idólatra. Nesta visão distorcida, termina-se por criar um panteão de dois deuses: o Pai, que é o Chefe, e o Filho, seu encarregado.

Infelizmente, a teoria dos “2 deuses” é encampada por algumas Igrejas Cristãs, pelos Testemunhas de Jeová e, pasmem, por alguns grupos de judeus messiânicos. Mas não existe nada de novo debaixo do sol. A heresia descrita já era propagada pelo “Pai da Igreja” Justino Mártir (100 a 165 D.C), no início da nova religião, denominada Cristianismo.

Ao lerem os cristãos gentios que Yeshua era o “Filho de Elohim”, não compreendiam que este título messiânico se referia ao próprio ETERNO que se manifestou em carne. Pensavam os cristãos, oriundos de religiões politeístas, que o “Filho de Deus” seria um ser mitológico nascido de um deus de forma sobrenatural. Escreveu Justino Mártir que não estava propondo nada diferente daquilo que já era crido no âmbito da mitologia, ou seja, que Yeshua era o Logos, o primogênito de Deus, tal como Júpiter ou Mercúrio (Primeira Apologia, capítulos 21-23). Júpiter[1] é o deus romano filho dos deuses Saturno e Cibele. Mercúrio[2] é o deus romano filho de Júpiter e de Bona Dea (“Deusa Bondosa”).

Vejam o que Justino Mártir, um dos fundadores do Cristianismo, quis dizer: o título “Filho de Elohim” atribuído a Yeshua é igual à designação “Filho de Deus” praticada no âmbito pagão, porque Yeshua é o Filho do ETERNO tal como o deus Júpiter é Filho de Saturno e o deus Mercúrio é Filho de Júpiter. Resumindo: Yeshua foi equiparado aos deuses romanos, na qualidade de um “subdeus”.

É exatamente este raciocínio pagão que se alastra em alguns círculos religiosos de hoje, ao afirmarem que Yeshua está em posição de subordinação em relação ao Pai. Não!!! Lembre-se do que já foi escrito e provado à luz das Escrituras: Yeshua é YHWH que se manifestou em carne, e não um “semideus”.

A B’rit Chadashá em aramaico é clara ao demonstrar que Yeshua recebeu adoração, extraindo-se daí que o Mashiach é o ETERNO, porquanto somente este pode ser o destinatário de adoração.

Com efeito, em aramaico, o verbo “sagad” (סגד) significa “adorar”, “cultuar”, “prestar reverência ou deferência ao ETERNO ou a outros deuses”, conforme atestam o Lexicon to the Syriac New Testament (Peshitta), de William Jennings, na página 146, e o Compendious Syriac Dictionary, de Robert Payne Smith, na página 360.

Na B’rit Chadashá em aramaico, a raiz triconsonantal do verbo “sagad” aparece sempre relacionada à adoração ao ETERNO:

Adore a YHWH, seu Elohim, e sirva somente a ele.” (Mt 4:10 = Lc 4:8).

“Senhor, posso ver que é um profeta, respondeu a mulher. Nossos pais adoraram nesta montanha, mas vocês dizem que o lugar onde se deve adorar é Yerushalayim [Jerusalém]. Yeshua disse: Senhora, creia em mim, está chegando o tempo em que vocês não adorarão o Pai nem nesta montanha nem em Yerushalayim. Vocês não sabem o que adoramnós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas está chegando o tempo em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque esse é o tipo de gente que o Pai deseja que o adore.” (Jo 4:19-24).

Fica claro ao se ler os textos citados que a adoração é destinada exclusivamente ao ETERNO, e nos versos transcritos, em aramaico, foi usado o verbo “sagad”, traduzido para o português como “adorar”. Pois bem, há passagens da B’rit Chadashá em que o verbo “sagad” (adorar) é usado em relação a Yeshua, ou seja, o Mashiach foi adorado. Então, o raciocínio torna-se bastante simples: 1) os escritores da B’rit Chadashá disseram que somente YHWH pode ser adorado; 2) tais escritores também mencionaram que Yeshua foi adorado; 3) logo, Yeshua é YHWH. Eis as Escrituras traduzidas do aramaico que apontam Yeshua recebendo atos de adoração:

“E, entrando na casa, viram o menino [Yeshua] com Miryam [Maria], sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram…” (Mt 2:11).

“Imediatamente Yeshua estendeu a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?

E logo que subiram para o barco, o vento cessou.

Então os que estavam no barco adoraram-no, dizendo: Verdadeiramente tu és o Filho de Elohim.” (Mt 14:31-33).

“E eis que Yeshua lhes veio ao encontro, dizendo: shalom alechem [paz esteja convosco]. E elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés, e o adoraram.” (Mt 28:9).

“Quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram.” (Mt 28:17).

Destarte, comprova-se que Yeshua é YHWH pelo fato de receber adoração, já que somente o ETERNO é digno de ser adorado.

Em suma, pode-se asseverar:

1) todos os textos que mencionam o Pai e o Filho estão tratando de duas k’numeh do ETERNO, e não de duas Pessoas diferentes;

2) da mesma forma, a referência a Yeshua, a Elohim e à Ruach HaKodesh (ex: II Co 13:14) não prova a existência de 3 Pessoas, e sim a existência de três k’numeh de YHWH, que é UM, 1 (uma) Pessoa (Devarim/Deuteronômio 6:4; Yochanan Marcus/Marcos 12:29);

3) os versículos  que mostram Yeshua em submissão ao Pai expressam, em realidade, situações em que a natureza humana do Mashiach (Messias) se subordinou a YHWH.

Continua…

 


[1] Já na mitologia grega, Júpiter se identifica com o deus “Zeus”.

[2] Na mitologia grega, é sincretizado com o deus “Hermes”.

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