Por Tsadok Ben Derech
Ao negar a ressurreição de Yeshua, o Rosh Marcos Abraão faz citação do Rabino Isaac Luria no sentido de que Yeshua está morto e enterrado:
“Ao norte de Safed (Tsfat), saindo de Safed para o lado norte, indo em direção à vila de Ein Zeitun, passando por uma árvore de Alfarroba (alfarrobeira), está enterrado Ieshua, o Netsarim (sic).”[1]
Primeiramente, cabe registrar que não está escrito “Yeshua, o Netsarim (Nazarenos)”, pois então haveria gravíssimo erro de vernáculo: “Yeshua, o (singular) Netsarim/Nazarenos (plural)”!
Vê-se claramente que o Rosh Marcos Abraão utilizou palavra no plural (Netsarim= Nazarenos), quando, tecnicamente, deveria usá-la no singular (HaNotsri = Nazareno). Não se diz, como o fez o Rosh Marcos Abraão, “Yeshua, os Nazarenos (Netsarim)”, mas sim “Yeshua, o Nazareno”.
Em verdade, assim escreveu Isaac Luria: יש”ו הנוצרי, ou seja, “Yeshu, HaNotsri” (= Yeshua, o Nazareno).
Abstraindo o citado erro do Rosh Marcos Abraão, fato é que o Rabino Isaac Luria realmente afirma que Yeshua está enterrado perto de Tzfat (Safed).
Porém, eis a pergunta: Qual é a prova concreta apresentada pelo citado rabino do século XVI?
Nenhuma!
Trata-se de uma leviana afirmação de quem rejeitou Yeshua como Mashiach, e por tal razão quis propagar a ideia, sem nenhuma prova, de que o Nazareno está enterrado.
Aliás, desde a morte de Yeshua, os evangelhos narram que as autoridades religiosas subornaram os soldados para que estes dissessem que Yeshua não ressuscitou e que seu corpo foi furtado pelos discípulos, sendo que esta história foi difundida entre os judeus:
“Mt. 28:11 Ora, enquanto elas iam, eis que alguns da guarda foram à cidade, e contaram aos principais sacerdotes tudo quanto havia acontecido.
Mt. 28:12 E congregados eles com os anciãos e tendo consultado entre si, deram muito dinheiro aos soldados,
Mt. 28:13 e ordenaram-lhes que dissessem: Vieram de noite os seus discípulos e, estando nós dormindo, furtaram-no.
Mt. 28:14 E, se isto chegar aos ouvidos do governador, nós o persuadiremos, e vos livraremos de cuidado.
Mt. 28:15 Então eles, tendo recebido o dinheiro, fizeram como foram instruídos. E essa história tem-se divulgado entre os judeus até o dia de hoje”.
Então, percebe-se que o Rabino Isaac Luria ajudou a propagar, mentirosamente, a ideia de que Yeshua está enterrado, o que não é nenhuma novidade, pois desde o primeiro século esta história foi difundida maliciosamente pelos judeus que rejeitaram Yeshua como Mashiach.
Mais uma vez pergunta-se: Onde estão as provas concretas de que Yeshua realmente está sepultado? Não existem!!!
Uma declaração isolada de um Rabino, sem nenhuma comprovação histórica ou arqueológica, não é considerada prova.
Será que o escrito de um Rabino do século XVI tem mais autoridade do que os documentos escritos pelos originais discípulos de Yeshua?
Ora, se o Rosh Marcos Abraão decidir acreditar em qualquer palavra de Rabino, daqui a pouco chegará a crer no que consta em certas obras rabínicas: que Yeshua praticou feitiçaria e que está queimando no Guey-Hinom.
É obvio que alguns rabinos que não creem em Yeshua como Mashiach tentarão desqualificá-lo, e é por tal razão que alegações sem provas devem ser descartadas.
Ademais, importante citar que o teólogo judeu, historiador, professor e diplomata Pinchas Lapide, que não crê em Yeshua como sendo o Mashiach de Israel, chegou a pesquisar cientificamente a ressurreição do Nazareno, a fim de refutá-la ou confirmá-la à luz da História. Eis as suas conclusões:
“Estou convencido com base em evidências de que o Deus de Israel ressuscitou Yeshua de Nazaré dentre os mortos.” (The Ressurection of Jesus, London, SPCK, 1983).
Ora, os Ketuvim Netsarim (Escritos Nazarenos/“Novo Testamento”) falam claramente sobre a ressurreição de Yeshua (Mt 28:1-20; Mc 16:1-8; Lc 24:1-12; Jo 20:1-18). Caso Yeshua não tivesse ressuscitado, então, tais passagens citadas seriam falsas. Porém, os textos referidos são verdadeiros. Por quê?
Porque há registros históricos comprovando que os judeus discípulos de Yeshua usavam o “Novo Testamento”, tal como os cristãos. A única diferença reside no fato de estes usarem manuscritos em grego, enquanto os judeus seguidores de Yeshua manejavam manuscritos em línguas semitas:
“Eles usam não só o ‘Novo Testamento’, mas também o ‘Velho Testamento’, assim como os judeus o fazem … ” (Epifânio de Salamina; Panarion 29).
“Eles têm o evangelho segundo Mateus totalmente em hebraico. Pois é claro que eles ainda preservam esta obra no alfabeto hebraico, como ele foi originalmente escrito” (Epifânio de Salamina; Panarion 29).
“Escreveu [Hegésipo, o Nazareno] também muitas outras coisas, das quais fizemos menção anteriormente, em parte, ao dispor as narrativas conforme as circunstâncias. Põe algumas coisas tomadas do Evangelho dos hebreus e do Siríaco [Aramaico], e em particular tomadas da Língua Hebraica, mostrando assim que se fez crente sendo hebreu.” (Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, editora Novo Século, 2002, página 92).
Cumpre esclarecer que as passagens acima citadas são de Pais do Cristianismo que duramente criticaram os judeus nazarenos, porém, chegaram a reconhecer que estes também usavam o “Novo Testamento”, o que dá credibilidade ao relato.
Alguém poderá alegar que o “Novo Testamento” usado pelos judeus nazarenos era diferente daquele em poder dos cristãos. Sim, existem pequenas diferenças, tal como os diversos manuscritos do Tanach também apresentam variações!
Porém, todos os manuscritos semitas do “Novo Testamento” relatam claramente sobre a ressurreição de Yeshua. Sobre isto não existem dúvidas!
Chega a ser contraditório alguém se dizer discípulo de Yeshua e negar a sua ressurreição, pois os judeus que creem em Yeshua, ao longo dos séculos, também professam a ressurreição do Mashiach. Esta é a razão pela qual os judeus nazarenos, no mundo inteiro, possuem Estatuto com a seguinte declaração:
“Nós cremos que Yeshua HaMashiach… foi crucificado para a expiação de seu povo, de acordo com as Escrituras, foi ressuscitado corporalmente no terceiro dia, ascendeu ao céu…”[2].
Logo, a teoria do Rosh Marcos Abraão não é endossada por judeus que seguem Yeshua HaMashiach, relembrando-se que, nas conclusões de estudo anterior[3], foram citados 27 (vinte e sete) rabinos e eruditos judeus que não aprovam as lições do Rosh Marcos Abraão.