Yeshua e o Shabat

Yeshua e o Shabat

Yeshua HaMashiach guardava o shabat e nunca o violou. Prescrevem as Escrituras que era costume de Yeshua guardar o shabat:

“Então, pela virtude da Ruach [Espírito], voltou Yeshua para a Galil [Galileia], e a sua fama correu por todas as terras em derredor. E ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado.

“E, chegando a Netsaret [Nazaré], onde fora criado, entrou num dia de SHABAT [SÁBADO], segundo o SEU COSTUME, na sinagoga, e levantou-se para ler.” (Lc 4: 14 a 16).

Por mais que isto doa os ouvidos de alguns cristãos, mister se faz repetir as palavras do historiador Geza Vermes: “Jesus [Yeshua] foi judeu e não cristão” (Jesus e o Mundo do Judaísmo, pg. 11).

Como judeu, Yeshua frequentava sinagogas e não igrejas, quer seja pelo fato de estas não existirem em sua época, quer seja pelo fato de que, ainda que existissem, Yeshua não iria compartilhar do paganismo instalado no Cristianismo. Como judeu, Yeshua guardava o shabat e, mesmo depois de sua morte, nunca ordenou que houvesse a alteração deste dia para o domingo.

Yeshua era chamado constantemente de rabi (Mt 23:7, 26:49; Lc 10:39 etc). Rabi significa professor, mestre, título semita que mais tarde se tornou conhecido como rabino. Então, Yeshua foi um rabino, ideia endossada por Bultmann, ao afirmar que:

“[Yeshua] vive de fato como um rabino judaico. Como tal, ocupa seu espaço de professor na sinagoga. Reúne discípulos ao redor de si. Participa de discussões acerca das questões da Lei… Ele discute com os rabinos judaicos, usa os métodos de argumentação, o mesmo estilo de discurso.” (Bultmann, Jesus and the Word, p. 49).

Eis algumas passagens que comprovam que o rabino Yeshua guardava o shabat:

“E, partindo dali, chegou à sua pátria, e os seus discípulos o seguiram. E, chegando o shabat [sábado], começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se admiravam, dizendo: De onde lhe vêm estas coisas? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais maravilhas por suas mãos?” (Mc 6:1 e 2 ).

“E aconteceu também noutro shabat [sábado], que entrou [Yeshua] na sinagoga, e estava ensinando; e havia ali um homem que tinha a mão direita mirrada.” (Lc 6: 6).

“E [Yeshua] ensinava no shabat [sábado], numa das sinagogas.” (Lc 13:10).

Ora, se é verdade que os discípulos de Yeshua estudavam as Escrituras nos shabatot (sábados), nós, que cremos em Yeshua, devemos fazer o mesmo: guardar o dia sagrado.

Outra questão interessante: vimos que no Tanach (Primeiras Escrituras) a violação do shabat é considerada um pecado gravíssimo. Se Yeshua tivesse profanado o shabat, então, teria pecado. Porém, sabemos que Yeshua nunca pecou (Hb 4:15), razão pela qual se chega à conclusão óbvia de que nunca transgrediu o mandamento do shabat.

De forma equivocada, alguns cristãos acham que Yeshua profanou o shabat, porque realizou curas milagrosas neste dia e expulsou demônios (exemplos: Mt 12:9-14; Mc 3: 2-5; Lc 6: 6-11; Lc 13: 10-17;  Lc 14: 1-6; Jo 7: 19-24).

Não existe nenhum mandamento nas Escrituras proibindo a realização de curas e a expulsão de demônios no shabat. Logo, se não há proibição, tais atividades são reputadas lícitas e não constituem, de maneira nenhuma, transgressão ao 4º mandamento.

Em muitos episódios, os p’rushim (fariseus) acusavam Yeshua de desrespeitar o shabat em razão das curas promovidas. Todavia, como já afirmado, não existe nada nas Escrituras proibindo a prática do bem. Pelo contrário, o ETERNO anseia que se faça o bem ao próximo, seja qual dia for.

Os críticos de Yeshua levantaram a seguinte questão: “É permitido curar no shabat?” (Mt 12:10). Yeshua rebateu a acusação com uma pergunta retórica: “É permitido, no shabat, fazer o bem ou fazer o mal, salvar a vida ou matar?” (Mc 3:4; Lc 6:9 e Lc 14:3). Yeshua quis ensinar que não é permitido praticar o mal, nem ferir nem matar no shabat ou em qualquer outro dia. Deve-se enfatizar o ato positivo: fazer o bem, ou seja, salvar a vida.

Vale lembrar que no shabat não é permitida a realização de trabalho (Ex 20:8-11), porém, as curas promovidas por Yeshua não são consideradas “trabalho”, mas sim atos sobrenaturais.  Cita-se o magistério do historiador Geza Vermes, Professor da Universidade de Oxford:

“Resumindo, de acordo com as palavras colocadas por Mateus (12,12) nos lábios de Jesus [Yeshua], ‘É lícito praticar o bem no Shabat’. Todo o debate, entretanto, parece ser uma tempestade em copo de água já que nenhuma das curas de Jesus [Yeshua] demandava ‘trabalho’ mas eram operadas por meio de palavras ou, no máximo, pela imposição de mãos ou outro contato físico simples.” (Geza Vermes, A religião de Jesus, o Judeu,  pg. 29).

Releva registrar que a tradição judaica interpreta corretamente as Escrituras no sentido de que é possível realizar trabalho no shabat para salvar vidas. Em outras palavras, existindo conflito entre o dever de guardar o shabat e o dever de salvar a vida, este último deve prevalecer, consoante afirma o Talmud:

“Consideração pela vida prevalece sobre o Shabat” (Yoma 85b).

Em Mekilta, rabi Natan afirma igualmente que a vida é superior ao shabat:

“Vede o que é dito, ‘Portanto, os filhos de Israel guardarão o Shabat e o observarão de geração a geração’ (Ex 31:16) – Um Shabat pode ser profanado para que se possa guardar muitos outros shabatot (sábados)”.

Os textos selecionados de Yoma e Mekilta são relevantes para se entender o pensamento de Yeshua no episódio em que seus discípulos (e não Yeshua) arrancaram espigas de milho e as comeram (Lc 6:1). O argumento de Yeshua (Lc 6:3-4) é de que a fome, que pode levar o homem à inanição e à morte, é reputada como perigo de vida, razão pela qual aliviar a fome é mais importante do que o shabat, tal como entenderam David e seus soldados famintos (1 Sm 21:1-7).

Yeshua afirmou que é o “Senhor do Shabat” (Mt 12:8). Se Yeshua é o Senhor, nós somos servos. Se o nosso Senhor obedeceu ao mandamento do shabat, nós também devemos obedecê-lo. Os servos não podem ser maiores que o Senhor!

Outro sentido da expressão “o Filho do Homem é Senhor até mesmo do Shabat” diz respeito ao fato de que o shabat foi criado para o homem, e não o contrário. Como já explicitado no início deste estudo, o shabat foi instituído pelo ETERNO para o benefício do ser humano, e não para ser um jugo. Tal pensamento está em consonância com a diretriz talmúdica:

“O rabino Yonatan ben Yosef disse: ‘Pois ele [o Shabat] é santo para vós’ [Êxodo 31:14]. Ou seja, é posto em suas mãos, não vocês em suas mãos!” (Yoma 85b).

À guisa de conclusão deste tópico, ressalta-se que, à luz das Escrituras, Yeshua guardava o mandamento do shabat e nunca disse que este seria substituído pelo domingo.

Extraído do livro “Judaísmo Nazareno: o Caminho de Yeshua e de seus Talmidim” (Tsadok Ben Derech)

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