Por Tsadok Ben Derech
No calendário bíblico-israelita, existem três festas de peregrinação a Yerushalayim (Dt 16:16):
1) Pêssach (Páscoa),
2) Shavuot (Semanas/“Pentecostes”),
3) Sukot (Tendas/“tabernáculos”).
Tratar-se-á, neste estudo, da festa conhecida como Shavuot, palavra hebraica que significa “semanas”. Nas bíblias cristãs, a festa é denominada “Pentecostes”, nome dado pelos judeus de língua grega, que viveram nos séculos III e IV A.C., a partir da palavra grega “pente” (cinquenta).
Além de Shavuot e Pentecostes, a festa sub examine é tão multifacetada que é conhecida por outros nomes:
1) Yom HaBikurim (Dia das Primícias), porquanto o ETERNO determina a entrega das primícias, ofertas de grãos, neste dia (Bamidbar/Números 28:26). OBS: não confundir estas primícias com aquelas mencionadas em Lv 23:9-12, que se referem a Pessach.
2) Chag HaKatsir (Festival da Colheita), nome que se extrai de Shemot (Êxodo) 23:16;
3) Bikurei Ketsir Chitim (os primeiros frutos da colheita do trigo), conforme Shemot (Êxodo) 34:22
4) Zeman Matan Torateinu (Tempo da Entrega da Torá), porquanto, segundo a tradição judaica, a Torá foi entregue a Moshé (Moisés) pelo ETERNO na Festa de Shavuot.
Em suma, no Judaísmo, comemoram-se na Festa de Shavuot os (i) primeiros frutos da colheita de cereais e (ii) o dia em que o ETERNO entregou a Torá no Sinai.
Durante Shavuot, há a proibição de trabalho (Vayikrá/Levítico 23:21), visto que o ETERNO requer dedicação exclusiva no dia festivo.
A festa de Shavuot (Semanas) recai no dia seguinte após sete shabatot (sábados), a partir de Pêssach (Páscoa). Então, temos: 7 x 7 + 1 = 50.
“Depois para vós contareis desde o dia seguinte ao shabat [sábado], desde o dia em que trouxerdes o molho da oferta movida; sete semanas inteiras serão.
Até ao dia seguinte ao sétimo shabat [sábado], contareis cinquenta dias; então oferecereis nova oferta de alimentos a YHWH.
Das vossas habitações trareis dois pães de movimento; de duas dízimas de farinha serão, levedados se cozerão; primícias são a YHWH.
Também com o pão oferecereis sete cordeiros sem defeito, de um ano, e um novilho, e dois carneiros; holocausto serão a YHWH, com a sua oferta de alimentos, e as suas libações, por oferta queimada de cheiro suave a YHWH.
Também oferecereis um bode para expiação do pecado, e dois cordeiros de um ano por sacrifício pacífico.
Então o sacerdote os moverá com o pão das primícias por oferta movida perante YHWH, com os dois cordeiros; santos serão a YHWH para uso do kohen [sacerdote].
E naquele mesmo dia apregoareis que tereis santa convocação; nenhum trabalho servil fareis; estatuto perpétuo é em todas as vossas habitações pelas vossas gerações.
E, quando fizerdes a colheita da vossa terra, não acabarás de segar os cantos do teu campo, nem colherás as espigas caídas da tua sega; para o pobre e para o estrangeiro as deixarás. Eu sou YHWH vosso Elohim” (Vayikrá/Levítico 23:15-22).
A contagem dos cinquenta dias até a Festa de Shavuot é denominada Sefirat Ha-Omêr (Contagem do Ômer), pois o omer é um feixe de cereal que era levado ao Templo no feriado de Shavuot.
Em Shavuot, os israelitas traziam os primeiros frutos da colheita (primícias) para o Mishkan (Tabernáculo) e, posteriormente, ao Beit HaMikdash (Templo). Trata-se de uma festa com dimensão agrícola em que YHWH é honrado com as primícias da colheita, verdadeiras ofertas de gratidão por Sua provisão e sustento:
“Até ao dia seguinte ao sétimo shabat [sábado], contareis cinquenta dias; então oferecereis nova oferta de alimentos a YHWH.
Das vossas habitações trareis dois pães de movimento; de duas dízimas de farinha serão, levedados se cozerão; primícias são a YHWH.
Também com o pão oferecereis sete cordeiros sem defeito, de um ano, e um novilho, e dois carneiros; holocausto serão a YHWH, com a sua oferta de alimentos, e as suas libações, por oferta queimada de cheiro suave a YHWH.
Também oferecereis um bode para expiação do pecado, e dois cordeiros de um ano por sacrifício pacífico.
Então o sacerdote os moverá com o pão das primícias por oferta movida perante YHWH, com os dois cordeiros; santos serão a YHWH para uso do kohen [sacerdote]” (Vayikrá/Levítico 23:15-20).
Era costume que as famílias apresentassem as ofertas ao Kohen (sacerdote) recitando o seguinte texto das Escrituras:
“Então vocês declararão perante YHHW, o seu Elohim: ‘O meu pai era um arameu errante. Ele desceu ao Egito com pouca gente e ali viveu e se tornou uma grande nação, poderosa e numerosa.
Mas os egípcios nos maltrataram e nos oprimiram, sujeitando-nos a trabalhos forçados.
Então clamamos a YHWH, ao Elohim dos nossos antepassados, e YHWH ouviu a nossa voz e viu o nosso sofrimento, a nossa fadiga e a opressão que sofríamos.
Por isso YHWH nos tirou do Egito com mão poderosa e braço forte, com feitos temíveis e com sinais e maravilhas.
Ele nos trouxe a este lugar e nos deu esta terra, terra onde manam leite e mel.
E agora trago os primeiros frutos do solo que tu, ó YHWH, me deste’. Ponham a cesta perante YHWH, o seu Elohim, e curvem-se perante ele” (Devarim/Deuteronômio 26:5-10).
Ainda que hoje se viva em uma sociedade predominantemente industrial, deve-se honrar e agradecer o ETERNO pela produção agrícola, pois esta é essencial para a sobrevivência humana. Materializava-se a gratidão por meio de ofertas ao ETERNO:
“… Não aparecerão vazios perante YHWH;
cada qual oferecerá conforme puder, conforme a bênção que YHWH teu Elohim lhe houver dado”. (Devarim/Deuteronômio 16:16-17).
Se hoje não existe mais Beit HaMikdash (Templo), como cumprir esta mitsvá (mandamento)? Como podemos ofertar a YHWH?
Entende-se que alimentos e contribuições devam ser doados aos pobres:
“O que se compadece do pobre empresta a YHWH, que lhe retribuirá o seu benefício” (Mishlei/Provérbios 19:17).
Como dito acima, afirma a tradição que a Torá foi entregue a Moshé (Moisés) no dia de Shavuot, razão pela qual este dia festivo é de suma importância, visto que a Torá é a base do Judaísmo, inclusive sendo o alicerce de todos os ensinamentos de Yeshua:
“17. Não pensem que vim abolir a Torá ou os Profetas. Não vim para abolir, mas para cumprir.
18. Sim, é verdade! Digo a vocês: até que os céus e a terra passem, nem mesmo um yud ou um traço da Torá passará – não até que todas as coisas que precisam acontecer tenham ocorrido.
19. Portanto, quem desobedecer à ‘menor’ dessas mitsvot [mandamentos] e ensinar outras pessoas a agirem da mesma forma será chamado menor no Reino dos Céus ” (Matityahu/Mateus 5:17-19).
Tendo em vista que em Shavuot se comemora a outorga da Torá, há a tradição de se ler o texto de Shemot (Êxodo) 19 e 20, pois nele se encontram as palavras ditas pelo ETERNO em Asseret HaDibrot (As Dez Palavras; “Dez Mandamentos”).
Importante registar que a Torá não é apenas o padrão de conduta do povo de Israel, mas também o conjunto de normas éticas dirigidas aos gentios (estrangeiros). Dizendo de outro modo: já que YHWH não faz acepção de pessoas, a própria Torá estabelece que seus mandamentos ético-morais seriam aplicáveis tanto aos israelitas quanto aos gentios:
“A mesma Torá será para natural e para o estrangeiro [gentio] que peregrinar entre vós” (Shemot/Êxodo 12:49).
“Quanto à congregação, haja apenas um estatuto, tanto para vós outros como para o estrangeiro [gentio] que morar entre vós, por estatuto perpétuo nas vossas gerações; como vós sois, assim será o estrangeiro [gentio] perante YHWH. A mesma Torá e o mesmo estatuto haverá para vós outros e para o estrangeiro [gentio] que mora convosco” (Bemidbar/Números 15:15-16).
“Um e o mesmo juízo havereis, tanto para o estrangeiro [gentio] como para o natural [israelita]; pois eu sou YHWH, vosso Elohim” (Vayikrá/Levítico 24:22).
Muitos judeus têm o hábito de passar a madrugada da festa estudando o Tanach (Primeiras Escrituras).
Outra tradição é a leitura de Megilat Rut (Livro de Rute), uma vez que as cenas descritas na colheita de Rut estão de acordo com a Festa de Shavuot.
Imperioso registrar que foi durante a Festa de Shavuot que os discípulos de Yeshua ficaram cheios da Ruach HaKodesh (espírito de santidade ou “Espírito Santo”), e Kefá (Pedro) começou a anunciar com ousadia a morte e a ressurreição de Yeshua:
“Chegou a FESTA DE SHAVUOT, e os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar.
E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados.
E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles.
E todos foram cheios da Ruach HaKodesh [espírito de santidade ou “Espírito Santo”], e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem.
(…)
Então Kefá [Pedro] levantou-se com os onze e, em alta voz, dirigiu-se a eles…” (Ma’assei Sh’lichim/Atos 2:1-4 e 14).
Após Kefá (Pedro) proclamar que Yeshua é o Mashiach de Israel, firme na autoridade que lhe foi concedida pela Ruach HaKodesh (“Espírito Santo”), aproximadamente três mil judeus se juntaram aos netsarim (nazarenos):
“E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Kefá [Pedro] e aos demais emissários: Que faremos, homens irmãos?
E disse-lhes Kefá [Pedro]: Arrependei-vos, e cada um de vós seja imerso em nome de Yeshua HaMashiach, para perdão dos pecados; e recebereis o dom da Ruach HaKodesh [Espírito Santo];
Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Elohim nosso Senhor chamar.
E com muitas outras palavras isto testificava, e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa.
De sorte que foram imersos os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas” (Atos 2:37-41).
Todos aqueles que creem em Yeshua sabem a importância dos eventos ocorridos no capítulo segundo de Ma’assei Sh’lichim (Atos dos Emissários/Apóstolos). Consequentemente, a festa de shavuot também nos lembra deste grande dia e de todos os gloriosos dias em que os emissários pregaram a mensagem de Yeshua, manifestando inúmeros milagres operados pelo ETERNO.
Como netsarim (nazarenos), devemos nos espelhar nos emissários e pregar a mensagem de arrependimento para que os homens abandonem seus pecados e se voltem para Elohim, recebendo o perdão pelo reconhecimento do sacrifício expiatório de Yeshua HaMashiach (Ma’assei Sh’lichim/Atos 2:38). Nesta jornada, devemos ainda, em nome de Yeshua HaMashiach, curar enfermos e expulsar demônios (Yochanan Marcus/Marcos 16:17 e 18).
Segundo o Judaísmo Nazareno, a Festa de Shavuot vai muito além da comemoração dos primeiros frutos da colheita e da outorga da Torá, preordena-se precipuamente a buscar a imersão (batismo) em Ruach HaKodesh (Espírito Santo). É dia de buscar o sobrenatural do ETERNO!!!
A imersão em Ruach HaKodesh é o ato sobrenatural pelo qual o Espírito de YHWH passa a habitar dentro do homem (I Co 6:19), caracterizando-se:
1) por ser o próprio Espírito do Mashiach:
“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Elohim habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito do Mashiach, esse tal não é dele” (Rm 8:9).
OBS: verifique que o texto utiliza um paralelismo sinônimo, típico da poesia hebraica, em que o Espírito de Elohim é sinônimo do Espírito do Mashiach. Aliás, o Midrash afirma que o Espírito de Elohim mencionado em Gn 1:2 é o Espírito do Mashiach (Midrash Rabá, Vayikrá XIV, I).
2) por ser promessa de Yeshua dirigida a todos aqueles que o seguem:
“Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará a Ruach HaKodesh àqueles que lho pedirem?” (Lucas 11:13)
3) por ser dada somente àqueles que são obedientes a Elohim:
“Ora, nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim a Ruach HaKodesh, que Elohim outorgou aos que lhe obedecem” (Atos 5:32)
4) por guiar o discípulo em toda a verdade, que é a Torá (Sl 119:105, 142, 151; Pv 6:23):
“Mas quando a Ruach da Verdade vier, ela os conduzirá em toda a verdade…” (Jo 16:13)
5) por conferir santidade:
“os quais foram escolhidos segundo conhecimento prévio de Elohim, o Pai, para a obediência através da santidade da Ruach…” (I Pe 1:2)
6) por manifestar fruto:
“Mas o fruto da Ruach é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé” (Gl 5:22)
7) pela concessão de sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, conhecimento e temor de YHWH:
“E repousará sobre ele a Ruach de YHWH, a Ruach de sabedoria e de entendimento, a Ruach de conselho e de fortaleza, a Ruach de conhecimento e de temor de YHWH” (Yeshayahu/Isaías 11:2)
8) pela outorga de poder para testemunhar o nome de Yeshua HaMashiach:
“Mas receberão poder quando a Ruach HaKodesh descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Yerushalayim [Jerusalém], em toda a Yehudá [Judeia] e Shomron [Samaria], e até os confins da terra” (Atos 1:8)
9) pela dádiva de poder sobrenatural para produzir milagres:
“Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24:49)
“À vista disto, Kefá [Pedro] se dirigiu ao povo, dizendo: Israelitas, por que vos maravilhais disto ou por que fitais os olhos em nós como se pelo nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar?” (Atos 3:12)
“Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo” (Atos 6:8)
10) pela manifestação de dons espirituais:
“Ora, há diversidade de dons, mas a Ruach é a mesma.
E há diversidade de serviços, mas YHWH é o mesmo.
E há diversidade de operações, mas é o mesmo Elohim que opera tudo em todos.
Mas a manifestação da Ruach é dada a cada um, para o que for útil.
Porque a um pela Ruach é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pela mesma Ruach, a palavra da ciência;
E a outro, pela mesma Ruach, a fé; e a outro, pela mesma Ruach, os dons de curar;
E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas.
Mas uma só e a mesma Ruach opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.
Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é também o Mashiach” (1 Co 12:4-12)
CONCLUSÃO
Asseverou-se acima que, à luz do Judaísmo Normativo, a Festa de Shavuot comemora os primeiros frutos da colheita e a entrega da Torá. Se os judeus tradicionais se alegram neste dia festivo, nós, yehudim netsarim (judeus nazarenos), devemos nos regozijar sobremaneira, pois temos a própria Torá Viva, que é Yeshua, habitando em nós.
Busquemos na Festa Shavuot os melhores dons para proclamar a Torá de YHWH e testemunhar Yeshua HaMashiach. Que o sobrenatural de YHWH recaia sobre todos nós!!!
חג שמח
בוא רוח הקודש
Feliz Festa!
Venha, Ruach HaKodesh!