Satanás segundo o Judaísmo Antigo

Satanás segundo o Judaísmo Antigo

 

Acompanhe as citações do vídeo no resumo abaixo

Ao final, colocamos uma guia completo com referências

para estudo do tema no Tanach e na Literatura do Judaísmo Antigo

 

 

O texto da Parashat Ékev se inicia com os seguintes versos (Dt 7:11-12):

וְהָיָ֣ה עֵ֣קֶב תִּשְׁמְע֗וּן אֵ֤ת הַמִּשְׁפָּטִים֙ הָאֵ֔לֶּה וּשְׁמַרְתֶּ֥ם וַעֲשִׂיתֶ֖ם אֹתָ֑ם

וְשָׁמַר֩ יְהוָ֨ה אֱלֹהֶ֜יךָ לְךָ֗ אֶֽת־הַבְּרִית֙ וְאֶת־הַחֶ֔סֶד אֲשֶׁ֥ר נִשְׁבַּ֖ע לַאֲבֹתֶֽיךָ׃

Tradução: “E será que em razão de (ékev) escutares estes juízos/decretos e os guardarem e os praticarem,

E guardará ADONAI, teu Elohim, para ti a aliança e a graça/misericórdia que jurou a teus pais”.

Ékev significa “em razão de, porque”.

A mesma palavra עקב pode ser lida como “ékev” (em razão de, porque) ou “akêv” (calcanhar).

O verbo עקב significa, dentre outras acepções, “atacar com o calcanhar” (BDB Abridged).

Então, uma tradução alternativa do início do verso poderia ser: “se atacar com o calcanhar…”.

Explica o Midrash que existem algumas mitsvot que, por parecerem menores, nós as pisamos, achando que não são importantes. Afirma o Midrash que nenhuma mitsvá deve ser pisoteada, ou seja, tratada com desprezo. Toda mitsvá da Torá é importante.

Rashi: “E se você obedecer. Literalmente, ‘se você obedecer ao calcanhar’. Se você obedecer aos mandamentos triviais, que um homem está tentado a desfazer debaixo de seus calcanhares”.

Baal Shem Tov explicou as palavras iniciais da sidrah, וְהָיָה עֵקֶב (7:12), como se quisessem dizer “e o fim deve ser …” [entendendo עֵקֶב, literalmente “calcanhar”, para significar “fim”]. Portanto, ele concluiu, considere todas as mitsvot como as últimas que você poderá realizar em sua vida.

Conclusão: Não despreze nenhuma mitsvá. Durante toda a parashá, Moshé encoraja o povo a obedecer ao ETERNO, que significa obedecer à sua Torá.

Existe uma técnica de interpretação do Tanach chamada de Gezerá Shavá, em que se buscam nas Escrituras a conexão entre palavras com o mesmo radical, ainda que versem sobre textos com temas distintos. O nome desta parashá está ligado ao calcanhar, ensinando-nos que não devemos desprezar a Torá com o nosso calcanhar, pisando nas mitsvot. Outro texto que se liga à palavra “calcanhar” é Gn 3:15 (primeira aparição de tal palavra nas Escrituras), razão pela qual podemos aplicar a Gezerá Shavá para conectarmos Dt 7:11 (ékev = em razão de) com Gn 3:15 (akêv = calcanhar).

Consoante Bereshit/Gênesis 3:15, YHWH proclamou que da semente da mulher nasceria aquele quem daria um golpe na cabeça da serpente (HaSatan/Satanás).

Gênesis 3:15: Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.

Apregoa a tradição judaica, consignada no Targum, que existiria uma batalha entre os filhos da mulher e a serpente, e que esta seria finalmente abatida pelo Rei Messias:

Targum Yerushalmi (Pseudo-Yehonatan): “E será que, quando os filhos da mulher obedecerem à Torá e executarem suas instruções, eles estarão preparados para te bater na cabeça e para matar-te [a serpente]. E quando os filhos da mulher abandonarem as mitsvot (mandamentos) da Torá e não realizarem suas instruções, tu [a serpente] estarás pronta para machucá-los em seu calcanhar, e feri-los. No entanto, haverá um remédio para os filhos da mulher, mas para ti, serpente, não haverá remédio. Haverá um remédio para o calcanhar [dos filhos da mulher] nos dias do Rei Messias”.

Nós muitas vezes desprezamos a Torá com os nossos calcanhares, pisando nas mitsvot, mas é o Mashiach quem traz o remédio para a desobediência!

Voltemos para analisar a passagem citada do Targum: Enquanto YHWH preparou o Mashiach (Messias) para vir ao mundo e implementar a Torá nos corações humanos, a serpente (HaSatan) tentou desviar os homens do plano do ETERNO.

O Targum é bastante claro no sentido de que haverá um conflito entre a serpente, que leva o homem à desobedecer à Torá, e o Mashiach, quem leva o homem a cumprir a Torá.

A Torá em Gn 3:15 fala sobre um conflito entre a descendência da serpente e a descendência da mulher.

Então, temos os seguintes conflitos:

  • Descendência da serpente versus Descendência da mulher;
  • Serpente versus Mashiach.

Quem é a serpente?

HaShem representa vida, luz e bondade. Contrariamente, HaSatan e os demônios estão ligados à morte, à escuridão e à maldade.

Apesar de o Tanach não estabelecer uma panorama completo sobre HaSatan, fazendo poucas referências esparsas, a literatura do Judaísmo do Período do Segundo Templo é bastante ampla neste sentido. No presente estudo, nós usaremos apenas a literatura judaica do período do Segundo Templo, e não a literatura rabínica, que é bastante posterior.

Consoante o livro de Apocalipse, a serpente do Éden é HaSatan:

Apocalipse 12:9: E o grande dragão foi expulso, a antiga serpente, que é chamada de Enganador, e HaSatan, que seduz todo o mundo habitado: ele foi lançado sobre a terra, e seus anjos foram expulsos com ele.

O Gan Eden era o local em que HaShem se comunicava diretamente com o homem, sua Presença era constante naquele local, ou seja, era uma espécie de “Templo” na terra, entendido como o local da habitação de HaShem. Neste sentido, a tradição judaica afirma que os Templos terrestres em Jerusalém foram construídos onde HaShem se comunicava com o homem no Gan Eden.

A palavra hebraica Keruv (Querubim) se refere ao anjo guardião (protetor) que está próximo de HaShem. Então, no Gan Eden, já que HaShem estava naquele local falando com o homem e com a mulher, também estava um Keruv que será responsável pela primeira rebelião.

Os Keruvim no Tanach tinham três funções distintas: (1) guardar a fonte da vida (Gn 3:24); (2) levar a carruagem de Deus (Sal 18:11 = 2 Sam 22:11; 4 Ez 1: 5-20; 10: 1-22); e (3) servir no trono de Deus (1 Rs 6: 23-28; 8: 6-8).

Em Ezequiel 28:14, um “querubim ungido” funcionava como um guardião dentro do jardim do Éden. Este Keruv se apresentou na forma de uma serpente.

Interessante observar que na literatura da Mesopotâmia há a descrição de seres sobrenaturais que se apresentavam na forma de um Dragão-Serpente. Eles eram chamados de Kuríbu (cognato do hebraico Keruv).

No Egito, algumas divindades também eram representados como serpentes.

Isaías 14:

אֵ֛יךְ נָפַ֥לְתָּ מִשָּׁמַ֖יִם הֵילֵ֣ל בֶּן־שָׁ֑חַר

Is 14:12 Como caíste do céu, estrela da manhã, filha do amanhecer! como foste lançado por terra tu que prostravas as nações!

Is 14:13 E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono; e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do norte;

Is 14:14 subirei acima das alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.

Is 14:15 Contudo levado serás ao Sheol, ao mais profundo do abismo.

Ezequiel 28:

בְּעֵ֨דֶן גַּן־אֱלֹהִ֜ים הָיִ֗יתָ

Ez 28:13 No Éden, jardim de Deus tu estiveste; cobrias-te de toda pedra preciosa: a cornalina, o topázio, o ônix, a crisólita, o berilo, o jaspe, a safira, a granada, a esmeralda e o ouro. Em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados.

Ez 28:14 Eu te coloquei com o Keruv ungido para proteger; estiveste sobre o monte santo de Deus; andaste no meio das pedras de fogo.

Ez 28:15 Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que em ti se achou iniqüidade.

Ez 28:16 Pela abundância do teu comércio o teu coração se encheu de violência, e pecaste; pelo que te lancei, profanado, fora do monte de Deus, e o querubim da guarda te expulsou do meio das pedras de fogo.

Contexto dos textos:

Isaías 14 fala sobre o Rei da Babilônia e Ezequiel 28 diz respeito ao Rei de Tiro. Mas muitos estudiosos afirmam que, além do sentido literal, os textos estão fazendo uma alusão a outra pessoa. Seria o gênero literário de Mashal (Parábola, Comparação), em que os reis da Babilônia e de Tiro seriam comparados a outro personagem. Com efeito, o rei da Babilônia não caiu do céu, e o rei de Tiro não estava no Jardim do Éden e também não era um Keruv (querubim).

Muitos estudiosos afirmam que os textos de Isaías 14 e Ezequiel 28, além do sentido literal (reis da Babilônia e de Tiro, respectivamente), também se referem à uma rebelião que ocorreu no Gan Eden, como explica Michael Heiser, que também é defensor desta teoria, citando outros autores:

“Exemplos de eruditos que tomam esta posição, ou ao menos não são hostis a ela, incluem: H. J. van Dijk, Ezekiel’s Prophecy on Tyre (Ez. 26:1–28:19): A New Approach (Rome: Pontifical Biblical Institute, 1968) ; Peter C. Craigie, “ Helel, Athtar, and Phaethon (Isa 14:12–15) ,” ZAW 85 (1973): 223–25 ; W. Gallagher, “ On the Identity of Helel Ben Shaher in Is. 14:12–15 ,” Ugarit Forschungen 26 (1994): 131–46 ; J. W. McKay, “ Helel and the Dawn-Goddess: A Re-examination of the Myth in Isa 14:12–25 ,” VT 20 (1970): 450–64 ; Clifford, The Cosmic Mountain in Canaan and the Old Testament , 160–68”.  (Heiser, Michael S.. Demons: What the Bible Really Says About the Powers of Darkness. Lexham Press. Edição do Kindle).

Para os autores que defendem que houve uma rebelião no Gan Eden por parte de um ser celestial, chamado de HaSatan, devem ser interpretados em conjunto os textos de Gênesis 3, Isaías 14:12-15 e Ezequiel 28:13-16.

Não se sabe ao certo como foi a rebelião em Isaías 14 e Ezequiel 28, mas a ideia geral é que um ser espiritual veio a se opor à vontade de Deus e se tornou inimigo do homem. Conforme veremos, este ser é HaSatan segundo a opinião de muitos eruditos, todos pautados em farta literatura judaica antiga.

No livro de Adam e Chavá (Adão e Eva), capítulos 12 a 17, HaSatan explica o motivo de sua queda. Depois que Deus criou o homem à sua imagem e à sua semelhança, o anjo Michael (Miguel), obedecendo à ordem de Deus, instruiu que os anjos adorassem (= se prostrassem diante de) o homem, pois foi criado à imagem de Deus. Os anjos adoraram (se prostraram perante) Adam, mas HaSatan se recusou a fazê-lo, alegando que  foi criado antes do homem e é superior ao homem. Satan diz que o certo seria o homem adorá-lo! Então, Michael diz para Satan que, caso ele não se prostrasse perante o homem, Deus ficaria irado. HaSatan responde:

“Se ele [Deus] se irar contra mim, porei o meu trono acima das estrelas do céu e serei como o Altíssimo” (15:3, vide Is 14:13 e 14).

HaShem se irou contra HaSatan e o expulsou juntamente com seus anjos. Por este motivo, HaSatan armou o plano para fazer com o que o homem pecasse, e assim o homem perderia as alegrias e a felicidade, tal como HaSatan as perdeu.

Em outras palavras, já que HaSatan perdeu tudo o que tinha, por se rebelar contra Hashem, o Acusador levou o homem a também se rebelar contra o seu Criador, para que viesse a perder o jardim do Éden e fosse punido com morte, dor, trabalho etc.

Esta é uma das versões sobre o motivo da queda de HaSatan. Não obstante, existe uma outra versão na literatura judaica. Em 2 Enoque, a rebelião de HaSatan é diferente da história acima exposta, tendo ocorrido durante o segundo dia da criação, e não depois da criação do homem:

2 Enoque 29:4-6:

[O próprio Deus é o narrador e fala da expulsão de Satanael (= Satanás) das alturas, juntamente com seus anjos]

“4 Mas um da ordem dos arcanjos se desviou, junto com a divisão que estava sob sua autoridade. Ele teve a ideia impossível, que ele pudesse colocar seu trono mais alto do que as nuvens que estão acima da terra, e que ele pudesse se tornar igual ao meu poder [Is 14:14].

5 E eu o lancei do alto, junto com seus anjos. E ele estava voando no ar, incessantemente, acima do insondável.

6 E assim eu criei os céus inteiros. E o terceiro dia chegou” [ou seja, a rebelião de HaSatan ocorreu no segundo dia].

O erudito judeu Howard Schartz, valendo-se de fontes do Judaísmo Antigo, associa a queda de Lúcifer aos textos de Isaías 14 e Ezequiel 28 (Tree of Souls, páginas 108 e 109).

Na obra Mikaot Gedolot, o Rabino Rosenberg traduz Isaías 14:12 como uma referência a Lúcifer.

Há farta literatura do Antigo Oriente Próximo acerca de uma rebelião com o objetivo de usurpar a autoridade na assembleia divina.

Alguns autores sustentam que o rebelde em Is 14 e Ez 28 seria Adam (Adão), porém, as transgressões descritas por estes dois profetas nada têm que ver com Adam.

Desde a expulsão do homem do Gan Eden, a morte passou para toda a humanidade por causa do pecado de Adão (Rm 5:12), e a morte e a serpente tornaram-se associadas uma à outra no pensamento bíblico. Todos os motivos de escuridão, morte, doença e caos se tornariam parte dessa associação, não porque sejam explicados em Gênesis 3 (não são), mas porque todos os caminhos conceituais levam ao reino da morte.

O rebelde original é consistentemente considerado arrogante após uma tentativa equivocada de se exaltar acima de Deus e do resto do conselho de Deus. Ele é um enganador cujas atividades demonstram antipatia por aqueles que foram feitos à imagem e à semelhança de Deus. Sua punição o associa com a morte, afastamento de Deus e domínio no reino dos mortos.

Em Jó 1 e 2, HaSatan é descrito como um oficial que tem a missão de reportar a Deus a desobediência do homem, acusando-o.

Durante o período do Judaísmo do Segundo Templo, o papel de HaSatan como um simples “promotor de justiça” que acusa pessoas diante de Deus sofreu novas interpretações. O comportamento de HaSatan foi entendido como oposição à avaliação de Deus sobre Jó (efetivamente acusando Deus de erro). Este confronto no conselho divino naturalmente contribuiria para as percepções posteriores do vilão de Gênesis 3 como um ser que se opôs à vontade de Deus.

Os Manuscritos do Mar Morto afirmam que Satan é um título para os demônios, ou seja, Satan não é um simples anjo que atua como acusador na Corte Celestial.

Levi 3:9 em Aramaico (4QLevi b ar 1 17, ou 4Q213a): “Que nenhum Satan tenha domínio sobre mim”.

11QPsalms a XIX, 15 (= 11Q5): “Nenhum Satan ou espírito impuro tenha domínio sobre mim”.

De acordo com os Manuscritos do Mar Morto, existem muitos Satãs.

Em um ponto de sua jornada celestial, Enoque descreve ter visto milhões de seres sobrenaturais diante do “Senhor dos Espíritos” (1 En 40:1). Enoque ouve uma série de quatro vozes angélicas, e a quarta voz lhe diz:

1 Enoque 40:7:

“E eu ouvi a quarta voz afastando os Satãs e proibindo-os de vir perante o Senhor dos Espíritos para acusar os que habitam na terra”.

Lendo todo o contexto do Livro de Enoque, estes Satãs não não servos leais a Deus. Enquanto o Judaísmo Rabínico entende Satan como um mero servo de Deus, na literatura do Judaísmo do Período do Segundo Templo, HaSatan e os demônios exercem certo papel de oposição a Deus. Aliás, nos Manuscritos do Mar Morto há um dualismo cósmico bastante intenso entre Adonai e seus anjos versus Belial e os demônios.

No livro de Enoque também aparece a figura de Azazel.

Em Enoque, Azazel é identificado como o próprio Satanás.

Nickelsburg e VanderKam:

“O contexto atual parece identificar Satanás com Azazel. Talvez o título reflita o desenvolvimento da identidade de ‘satanás’ como o tentador e demônio chefe por excelência, como é atestado, por exemplo, no Novo Testamento.” (Nickelsburg e VanderKam, 1 Enoch 2, página 203).

No livro de Enoque, os Vigilantes compõem o exército de Azazel (Satanás), e Enoque 69 lista os rebeldes anjos caídos, recontando a história de Gênesis 6:1-4.

Em Jubileus 10: 11–13, aprendemos que nove décimos dos Vigilantes pecadores foram presos no abismo por seus crimes, mas um décimo foi autorizado a permanecer na terra “para que pudessem estar sujeitos a Satanás”. Satanás é o “chefe dos espíritos”, também chamado de Mastema.

Mastema (משטמה) é um dos nomes de HaSatan, e significa inimizade, malevolência, animosidade, hostilidade, odioso, acusador e anjo de acusação.

Mastema é o oposto do Anjo da Presença.

Em Jubileus, o décimo restante dos demônios é considerado um meio usado por HaShem para julgar e testar a humanidade.

Segundo o livro dos Jubileus, os espíritos dos filhos dos Vigilantes causam pecado, derramamento de sangue, poluição, doença e fome após o dilúvio (Jubileus 11: 2– 6). No entanto, fica explícito que o fazem como parte do plano de Deus. Durante a vida de Noé, os demônios são diminuídos em número e subordinados a Mastema para ajudá-lo em sua tarefa divinamente designada de destruir e enganar os ímpios (10: 8–9). Para que o leitor não imagine Mastema e seus anfitriões como o lado negro de um dualismo cósmico e/ou como forças do mal em conflito ativo com Deus, Jubileus enfatiza que sua existência na terra é o resultado do reconhecimento de Deus da maldade crônica da humanidade (10:8–9). Demônios podem causar sofrimento, mas o leitor tem a certeza de que suas ações são parte de um sistema infalivelmente justo de justiça divina (Jubileus 5: 13-14).

Porém, como dito, nos Manuscritos do Mar Morto há um dualismo cósmico bastante presente em que se verifica um conflito entre Adonai e HaSatan.

Nos Manuscritos do Mar Morto e demais obras da Literatura do Judaísmo do Período do Segundo Templo, existe um outro nome frequentemente usado para designar HaSatan: Belial (ou Beliar), que significa perversidade, maldade.

Belial (ou Beliar) é o nome ou título mais comum para o príncipe das trevas nos Manuscritos do Mar Morto e nos Pseudepígrafos. Sua caracterização como rei das hordas demoníacas é inequívoca.

Sobre Belial (= HaSatan), a antiga literatura judaica apresenta as seguintes características:

    Belial é chamado de anjo da maldade, o governante deste mundo (Martírio de Isaías 2: 4; 4: 2).

  • Ele é o chefe dos poderes demoníacos (Martírio de Isaías 1: 8).
  • De maneira dualística, sua lei e vontade são descritas como contrárias à Torá e à vontade de Adonai (Testamento de Naftali 2: 6, 3: 1).
  • Seu caminho é o das trevas em oposição à luz (Testamento de Levi 19: 1; cf. Testamento de Yossef 20: 2).
  • Os anjos de Belial são colocados contra os anjos de Adonai (Testamento de Asher 6: 4).
  • Ele é o mestre dos espíritos do erro e engano (Testamento de Yehudá 25:3; Testamento de Zevulum 9: 8; Testamento de Levi 3: 3; cf. o espírito da verdade e o espírito do erro em Testamento de Yehudá 20: 1).
  • Ele é chamado de anjo da inimizade (CD 16:5; 1QM 13:11), que é o príncipe do reino da iniqüidade (1QM 17: 5-6).
  • Ele lidera as forças das trevas, freqüentemente chamadas de “exército / tropas ou porção de Belial” contra os Filhos da Luz ou “porção de Deus” (1QM 1: 1, 13; 11: 8; 15: 3; 1QS 2 : 2, 5).
  • “Todos os espíritos de sua porção, os anjos da destruição, andam de acordo com os preceitos das trevas, e para eles estão todos os seus desejos” (1QM 13:12).
  • O reinado ou domínio de Belial ocorre com freqüência no material de Qumran (por exemplo, 1QM 14: 9; 18: 1; 1QS 1:18, 24; 2:19; 3: 21–22; CD 12: 2). Acreditava-se que a época presente está sob seu controle (cf. 1QS 2,19 “ano após ano, enquanto durar o domínio de Belial”).

– “Por fim, Belial será acorrentado pelo Espírito Santo de Deus (Testamento de Levi 18:12) e lançado no fogo consumidor (Testamento de Yehudá 25:3).”

E a serpente do Gan Eden, seria HaSatan?

Sim, segundo a B’rit Chadashá e outras obras judaicas.

Apocalipse 12:9: E o grande dragão foi expulso, a antiga serpente, que é chamada de Enganador, e HaSatan, que seduz todo o mundo habitado: ele foi lançado sobre a terra, e seus anjos foram expulsos com ele.

Oráculos Sibilinos 1:55 afirmam que a serpente é “a causa do engano”.

Sabedoria de Salomão 2:24:Pela inveja do Diabo (διάβολος = adversário, caluniador), a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao seu reino a experimentam”.

Sobre o texto acima de Sabedoria de Salomão 2:24, explica Derek R. Brown:

“A Sabedoria de Salomão implica que o Diabo foi responsável pela introdução do mal no mundo” (God of This Age, página 29).

Michael Heiser: “Na LXX Jó, diabolos (“diabo”) é usado para traduzir śāṭān em Jó 1–2. A escolha da tradução faz sentido. O termo diabolos significa “caluniador”. Como discutimos em um capítulo anterior, embora o śāṭān de Jó tivesse uma função legítima de promotor no conselho divino, ele ultrapassou seus limites ao desafiar a avaliação de Deus sobre Jó – essencialmente caluniando a integridade de Deus”. (Heiser, Michael S.. Demons: What the Bible Really Says About the Powers of Darkness – Locais do Kindle 2033-2037. Lexham Press. Edição do Kindle).

Paolo Sacchi: “Mesmo que no livro da Sabedoria a serpente nunca seja nomeada, a afirmação de que Deus não criou a morte (1:14) e que esta só entrou no mundo pela obra do diabo (2:24) somente pode ser explicada pelo pensamento de que seja uma referência à história do Éden e à desobediência de Adão. No livro da Sabedoria, o diabo permanece apenas como a causa da morte, que é o mal por excelência” (Sacchi, Jewish Apocalyptic and Its History, páginas 226–227).

Os Manuscritos do Mar Morto associam a serpente ao Sheol:

Quando as profundezas fervem sobre as nascentes de água, elas se precipitam para formar ondas enormes, e rebentamentos de água, com som clamoroso. E quando eles avançam, o Sheol e o Abadon abrem; as fendas da cova fazem ouvir a sua voz enquanto descem para o abismo; e as portas do [Sheol] se abrem [para todas] as obras da serpente” (1QH a XI, 15b-17).

O pergaminho continua com o pensamento de que existem outros espíritos no mundo subterrâneo:

“E as portas da cova se fecham sobre o que espera a injustiça, e raios eternos sobre todos os espíritos da serpente” (1QH a XI, 18).

No texto acima, os “espíritos da serpente” podem ser entendidos como “os espíritos a serviço da serpente”.

Outro texto (4Q525, frag. 15) associa as serpentes às “trevas”, às “chamas da morte” e às “chamas do enxofre”.

Francis Andersen ensina:

“Em Qumran, as almas dos justos após a morte vivem com Deus ‘como anjos’, enquanto as almas dos iníquos vão se juntar aos espíritos de Belial (1QS 4: 6–8, 11–13; 1QM 12: 1– 7)”.

OBS: Os “espíritos de Belial” são os humanos iníquos mortos, ou outros espíritos malignos, ou ambos.

Ou seja, tudo isto está associado à rebelião de Belial (Satan) e ao contexto de Gênesis 3, Isaías 14 e Ezequiel 28.

Michael Heiser: “Visto que Belial é tão claramente uma figura de Satanás, é fácil ver como os escritores do Segundo Templo poderiam ter associado Belial à serpente. Todos os detalhes da associação do Novo Testamento com a serpente, Satanás e o submundo e seus outros espíritos podem ser encontrados nesses textos por meio de suas relações abstratas” (Demons: What the Bible Really Says About the Powers of Darkness).

Ensina o erudito judeu Howard Schwartz, fundado em ampla literatura judaica, que a serpente é Satanás:

“Na maioria das interpretações da história da Queda, a serpente é identificada como Satanás” (Tree of Souls, página 442).

“Uma vez que a serpente no Jardim do Éden levou Adão e Eva ao pecado, o qual trouxe a mortalidade, aquela é identificada no Zohar como o Anjo da Morte (o Zohar 1:35b também identifica a serpente como Satan e como Yetzer ha-Ra, o Impulso Mau que seduz a pessoa para pecar e depois se levanta diante da corte celestial para acusar o pecador)” (Tree of Souls, página 206).

Com efeito, no Zohar há uma discussão entre os Rabinos Yitschak e Yehudá. O primeiro afirma que HaSatan é yetser hará (inclinação para o mal), enquanto o segundo defende que a serpente seria o próprio animal. No debate citado, ingressa o Rabino Shim’on e esclarece que ambas as opiniões estão certas, e que o Anjo Samael (= Satanás) montou na serpente e a usou para tentar o homem e a mulher, e que a serpente seria Satan.

No mesmo sentido, o aclamado Rabino medieval Ovadyah Sforno ensina que a serpente no Gan Eden era HaSatan.

Ainda que no presente estudo não estejamos usando fontes judaicas medievais, citamos o Zohar e a opinião do Rabino Ovadyah Sforno, ambos no sentido de que a serpente é HaSatan, para demonstrar que parte do Judaísmo Rabínico absorveu corretamente a antiga tradição judaica sobre HaSatan vigente no primeiro século.

Vejamos outras obras do Judaísmo do Período do Segundo Templo acerca de HaSatan.

Testamento de Dan 5:6; 6:1: Satanás é o líder dos espíritos malignos, particularmente os Vigilantes.

O Testamento dos Patriarcas liga a queda do Éden a HaSatan:

“Pois, entre todos os homens, o espírito de ódio atua por Satanás pela fragilidade humana para a morte dos homens” (Testamento de Gad 4:7).

O Testamento dos Patriarcas também fala desse vilão como o Diabo (Testamento de Naftali 8: 4, 6; Testamento de Asher 3: 2).

Textos de Qumran também tratam Belial dessa maneira, uma entidade que “governa as pessoas … tentando-as a transgredir as regras da comunidade”.

O Testamento de Jó fala do Diabo que tenta e incita Jó e sua família (Testamento de Jó 3:3).

Na obra citada, o vilão é chamado de Diabo ou Satanás, que aparece mais como oponente dos humanos do que de Deus. Ele é aquele “por quem a natureza humana é enganada” (3.3), no sentido de que tenta enganá-la. Como tentador, ele tem liberdade de iniciativa e encontra obstáculo apenas na consciência humana; mas se Satanás quer atacar alguém de maneira material, deve pedir autorização a Deus (cap. 8).

O Testamento de Jó também narra o diabo como “Satanás” (Testamento de Jó 3: 6; 7: 1; 16: 2; 20: 1; 22: 2; 23: 1-3; 27: 1, 6; 41: 5). É Satanás por quem os homens são enganados (Testamento de Jó 3: 6). Ele é “o inimigo” (Testamento de Jó 47:10; cf. 7:11).

Michael Heiser: “Vimos que não há uma apresentação única e unificada de Satanás, o rebelde divino original do Éden, na literatura judaica do Segundo Templo. No entanto, todos os detalhes da teologia de Satanás do Novo Testamento estão presentes na literatura deste período anterior. Esses detalhes são baseados no Antigo Testamento, embora os textos do Segundo Templo e o Novo Testamento formem um mosaico teológico a partir desses dados de várias maneiras” (Demons: What the Bible Really Says About the Powers of Darkness – Locais do Kindle 2067-2070. Lexham Press. Edição do Kindle).

Todos os textos estudados demonstram como a B’rit Chadashá trabalha com os mesmos conceitos do Judaísmo do Período do Segundo Templo. Citam-se alguns exemplos:

Yochanan Álef (1 João) 3:8: Quem comete pecado é de HaSatan; porque HaSatan era pecador desde o princípio: e por isso apareceu o Filho de Elohim, para destruir as obras de HaSatan.

Yochanan (João) 12:31: Agora é o julgamento deste mundo; agora o governante deste mundo foi expulso.

2 Coríntios 4: 4: para aqueles cujas mentes o deus deste mundo cegou, a fim de que não cressem, para que a luz do evangelho da glória do Mashiach (que é a semelhança de Deus) despontasse sobre eles.

Matay (Mateus) 25:41: Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartem-se de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o Acusador e seus anjos.

Ap 12:7 E houve guerra no céu: Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e seus anjos lutaram,

Ap 12: 8 e não prevaleceu; nem seu lugar foi encontrado mais no céu.

Ap 12: 9 E o grande dragão foi precipitado, a antiga serpente, que é chamada de Enganador, e Satanás, que seduz todo o mundo habitado; ele foi lançado sobre a terra, e os seus anjos foram lançados com ele.

Ap 20: 7 E quando esses mil anos se completarem, Satanás será libertado de sua prisão;

Ap 20: 8 e sairá para seduzir as nações que estão nos quatro cantos da terra, Gog e Magog; e reuni-los para a batalha, cujo número é como a areia do mar.

Apocalipse 20: 9 E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o acampamento dos santos e a cidade amada. E desceu fogo de Deus, do céu, e os consumiu.

Apocalipse 20:10 E o Acusador que os seduziu foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estava também a besta e o falso profeta; e eles serão atormentados dia e noite para todo o sempre.

Apocalipse 20:13 E o mar entregou os mortos nele; e a morte e a sepultura entregaram os mortos nelas. E foram julgados, cada um de acordo com as suas obras.

Apocalipse 20:14 E a morte e a sepultura foram lançadas no lago de fogo. Esta é a segunda morte, [a saber,] este lago de fogo.

Apocalipse 20:15 E, se alguém não foi achado inscrito no livro da vida, foi lançado neste lago de fogo.

 

Conclusão

Segundo todas as informações que nos relatam a literatura do Judaísmo do Período do Segundo Templo, conclui-se com clareza solar que o conceito de HaSatan esboçado na B’rit Chadashá (Nova Aliança/“Novo Testamento”) guarda total compatibilidade com o mosaico teológico das antigas fontes judaicas. Com efeito, os escritores da B’rit Chadashá eram judeus, e se valeram dos pensamentos, ideias e concepções vigentes na mentalidade judaica  do primeiro século sobre HaSatan.

Portanto, a tese sustentada por alguns antimissionários no sentido de que a B’rit Chadashá inventou um conceito sobre HaSatan inexistente no Judaísmo Antigo é totalmente equivocada, e demonstra desconhecimento grosseiro sobre aspectos fundamentais do Judaísmo no Período do Segundo Templo, que é bastante anterior ao Judaísmo Rabínico.

Destarte, o estudo sobre HaSatan, tal como apregoado na B’rit Chadashá, deve ser efetuado primariamente à luz do Judaísmo do Período do Segundo Templo, e não do posterior Judaísmo Rabínico, para que não se caia no fatal erro do anacronismo.

Apêndice

Referências sobre HaSatan nas Escrituras: Lv 16:8, 10, 26; 1 Cr 21:1; Jó 1:6–9, 12; 2:1–4, 6–7; Zc 3:1–2; Mt 4:1, 5, 8, 10 e 11; 13:39; 12: 24 e 26; 16:23; 25:41; Mc 1:13; 3:22 e 23, 26; 4:15; 8:33; Lc 1:15; 4:2–3, 5, 13; 8:12; 10:18; 11:18; 13:16; 22:3, 31; Jo 6:70; 8:44;  12:31; 13:2 e 27; 14:30; 16:11; At 5:3;  10:38; 26:18; Rm 16:20; 1 Co 5:5; 7:5; 2 Co 2:10; 11:14; 12:7; Ef 2:2; 4:27; 6:11 e 12; 1 Ts 2:18; 2 Ts 2:9; 1 Tm 1:20; 3:6–7; 5:15; 2 Tm 2:26; Heb 2:14; Tg 4:7; 1 Pe 5:8; 1 Jo 3:8, 10; Jd 1:9; Ap 2:9, 10, 13, 24; 3:9; 12:10, 9 e 12; 20:2,7 e 10.

Referências sobre o tema na Literatura do Judaísmo Antigo

Tobit: 3:7–8; 3:8; 3:17; 6–8; 6:8; 6:14–15; 6:15–16, 6:17; 6:18 56, 8:2–3; 8:3, 12:15.

Sabedoria de Salomão: 1:14; 2:24; 7; 7:1–5 LXX; 7:17–22 LXX; 7:20.

Sirach: 6:7; 17:1–7; 17:12–14; 17:15–16; 17:17 ; 17:17 LXX ; 21:27 ; 25:24; 39:28.

Baruch: 4:5–7 LXX; 4:7; 4:30–35 LXX; 4:31; 4:33; 4:35.

2 Macabeus: 5:2.

4 Macabeus: 18:8

Assunção de Moisés: 10:8–10.

2 Baruch (Apocalipse Siríaco): 10:8.

1 Enoque: 5:24; 6–21; 22:10–11; 29:4; 29:5; 32:6; 39:12; 39:13; 40:1; 40:2; 40:7;  40:9; 48.9–18; 48:12; 48:13; 48:15; 49:2; 50:5.

José e Aseneth: 15:12.

Martírio e Ascensão de Isaías: 1:8; 2:1 e 4; 3:13; 4:2; 5:15; 7:9; 9:32; 10.29; 11.23.

Oráculos Sibilinos: 2:231; 4:186.

Testamento de Asher: 3:2; 6:4.

Testamento de Binyamin: 3.4.

Testamento de Dan: 5:6; 6:1.

Testamento de Gad: 4:7.

Testamento de Yov (Jó):  3:3; 3:6; 7:1; 7:11; 16:2; 20:1; 22:2; 23:1–3; 27:1; 27:6; 41:5; 47:10.

Testamento de Yossef: 20:2.

Testamento de Yehudá: 20:1; 25:2; 25:3.

Testamento de Levi: 3:3; 18:5; 18:12; 19:1.

Testamento de Naftali: 2:6;  3:1;  8:4;  8:6.

Testamento de Reuven:  3:6; 5:6.

Testamento de Zevulum: 9:8.

Manuscritos do Mar Morto: Documento de Damasco: 5:18 12:2 16:5; 1Q28b (1QSb) coluna i, linha 8; 1QapGen ar 2–5; 20:20; 1QH 1.9–11; 10:8; 1QH a coluna XI; XI, 104 XI, 29; XI, 32 24 XVIII; Rolo de Guerra: 1:1; 1:13; 1.14–15; 7.5; 9.5; 11:8; 13:9–13; 13:10 XIII, 10–12; 13:11; 13:12; 14:9; 15:3, coluna 17 17:5–6; 17:5–8; 18:1; 1QS 1:18; 1:24; 2:2; 2:5; 2:19; 3:15–17; 3:20; 3:20–21; 3:20–25; 3:21–22; 4:6–8 4:11–13; 2Q20 fragmento 1:2 [= Jub 46:2 ]; 4Q180 1 6–8, fragmento 1:7–8; 1:8;4Q202 IV 5–11 (= 1 En 10:8–12 ); 4Q203 fragmento 7 i:5; 4Q204 V 2 (= 1 En 10:13–19 + 12:3 ); 4Q213a (4QLevi b ) ar 1 17; Levi Aramaico 3:9; 4Q225 2.2.13; 4Q280 2.2; 4Q444 2 i 4; 4Q504 fragmento 1–2 iv, linha 12; 4Q510 1 5; 4Q511 35 7; 4Q525 fragmento 15; 4Q544 (4QAmram) 2.3; 4QEna 1 3:3; 4QLevi b ar 1 17; 11Q5 (11QPsalms a ) XIX, 15 , 27.2–5; 27.9–11; 11Q6 (11QPsalms b ) fragmento 4–5, linha16; 11Q11 (11QApocryphal Psalms) col. 5.

Filo de Alexandria: De gigantibus (De Gig.) 6 6–31; De vita Mosis (Mos.) 2.433; De opificio mundi (Op.) 58; De plantatione (De Plant.) 14; De posteritate Caini (Post.) 89; De praemiis et poenis (Praem.) 152; De specialibus legibus (De Spec. Leg.) 1:45; 1.66; 1.7.

Flávio Josefo: Antiquidades: 1.73; 6.166; 8.2.5.42–47; 8:45–9; 8.46–49; 8:47; 8:48; 9.19; Guerras Judaicas: 3.485; 7.120; 7.389.

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