RABINO YAAKOV EMDEN (1696-1776)
Foi em 1756 que o Sínodo de Constantinov, na Ukrania moderna procurou a ajuda do rabino Emden por suas habilidades para suprimir o movimento Shabbateano (um movimento com premissas messiânicas baseadas numa reinterpretação distorcida do Zohar).
Apesar de seu espírito penetrante e às vezes cáustico, houve um atributo seu ao qual todos os seus contemporâneos se juntaram à sua opinião: o seu poder crítico de análise baseada em seu conhecimento profundo do judaísmo ortodoxo. Essa busca levou o Rav. Emden a estudar as bases de todos os movimentos que seguiam algum messias.
Aqui é onde ele começou uma análise profunda das raízes históricas dos seguidores de Yeshua. Aqui é o lugar onde ele procurou descobrir a intenção original do messias judeu, Yeshua ben Yosef (Yeshua, filho de Yossef) e o fariseu Shaul (mais tarde chamado de apóstolo Paulo), que se tornou discípulo de Yeshua e emissário dos gentios.
Rabino Emden então chegou à conclusão de que Yeshua e seu emissário dos gentios (Shaul) viveram suas vidas totalmente em harmonia com a Torá e a Halachá (como guardar a Torá e toda a ” letra da Lei “).
Ele também passou a acreditar que era a intenção de Yeshua “deixar livres” as luzes da Torá e espalhar este conhecimento para todo o mundo gentio sob a direção dos mandamentos rabínicos antigos, que ficaram conhecidos como Leis de Noach.
Rav. Emden, então, reinterpretou os Evangelhos, e encontrou-os em harmonia com a premissa de que a Lei judaica estava eternamente ligada a todos os judeus e que eles (Yeshua e seus talmidim) praticavam e eram observantes do Judaísmo Haláquico todos os dias de suas vidas.
Estes conceitos foram revolucionários em 1757, quando ele escreveu uma carta para o Conselho das Quatro Terras. Esses conceitos ainda são revolucionários hoje.
O primeiro conceito revolucionário do Rabbi Emden era de que Yeshua HaNotzri (Yeshua o Nazareno) foi totalmente judeu ao longo de toda a sua vida e ministério, ele viveu uma vida em completa harmonia com as leis de Moisés que foram dadas aos israelitas no Monte Sinai.
Como ele declarou: “Portanto, você deve perceber – e aceitar a verdade daquele que fala isso – que nós vemos claramente aqui que o Nazareno e seus talmidim não quiseram destruir a Torá de Israel, D’us me livre … ” [ Rabbi Jacob Emden, Seder Olam Tabbah Vezuta ( 1757 )]
Quanto ao emissário Paulo, que era bem conhecido na cultura de Jerusalém como rabino Shaul de Társis, Rabi Emden aceita livremente o testemunho de Paulo, o qual era o estudante fariseu na Escola farisaica de Hillel. O mestre e mentor rabínico de Paulo era o rabino Gamaliel, o Ancião, neto de Hillel (HaNasi), o Ancião. Vemos as implicações do emissário Paulo em sua relação com seu jovem discípulo, Timóteo. O fato era evidente de que o emissário Shaul ao longo de todos os seus ensinamentos e escritos verdadeiramente viveu sua vida como um judeu observante.
Rabbi Jacob Emden fala: “Você pode, portanto, entender que Paulo não contradiz a si mesmo por causa de sua circuncisão de Timóteo, porque que este era o filho de uma mãe judia e pai gentio (Atos 16), e Paulo era um erudito, um discípulo de Rabban Gamaliel, o Ancião, bem versado nas leis da Torá. Ele sabia que o filho de uma mãe judia é considerado um judeu completo, mesmo que o pai fosse um gentio, como está escrito no Talmud e nos Códigos. Ele, portanto, agiu totalmente de acordo com a Halachá (“Caminho” ou o “caminho” de aplicar a lei da Torá à vida cotidiana) por circuncidar Timóteo. Isto seria, de acordo com sua posição de que tudo deve permanecer dentro de sua própria fé (I Coríntios 7). Timóteo, nascido de uma mãe judia, e dentro da lei dos judeus, tinha que ser circuncidado, assim como ele foi ordenado a observar a todos os mandamentos da Torá” [ Rabbi Jacob Emden, Seder Olam Tabbah Vezuta ( 1757 )]
O que o rabino Emden também acabou percebendo em seu estudo, em meados do século 18, foi que Yeshua, o Nazareno, tomou uma antiga Lei judaica de que certos gentios também tinham uma herança no “mundo vindouro” e a colocou em ação como mais uma parte de sua missão ao mundo gentio. Esta herança dada por D’us a estes gentios tinha sido deixada de lado por parte das escolas dos fariseus.
Era, apesar disso, aceita pelo sábio rabino e presidente (Nasi) do Sinédrio, Hillel, o Ancião, e seus discípulos. Há também evidências de que nem Yeshua e nem Shaul violaram qualquer um dos 613 mandamentos dados aos filhos de Israel no Sinai, mas, ao implementar estas antigas “sete leis dos b’nei Noach”, reforçaram o ideal da Torá de que aos judeus foi dada a responsabilidade de ser uma “luz para o mundo”.
Rabbi Jacob Emden fala: “Como eu já disse anteriormente – que os escritores do Evangelho nunca quiseram dizer que o Nazareno veio para abolir o Judaísmo, mas apenas que ele também veio para estabelecer uma conexão para os gentios a partir desse momento em diante. Isto não era novo, mas na verdade antigo, sendo eles os Sete Mandamentos dos Filhos de Noé (B’nei Noah), que foram esquecidos.
Os talmidim do Nazareno, em seguida, estabeleceram-nos de novo. No entanto, para os nascidos como judeus, ou para os circuncidados como convertidos ao Judaísmo, haverá uma só lei para aquele que é nascido em casa, e para o estrangeiro: são obrigados a observar todos mandamentos da Torá, sem exceção” [ Rabbi Jacob Emden, Seder Olam Tabbah Vezuta ( 1757 )]
O Rabino Emden escreveu uma carta ao Conselho de Quatro Terras. Este conselho foi a instituição central para o governo próprio judaico na Polônia: “A Carta do Rabbi Jacob Emden, o Seder Olam Rabbah Vezuta ( 1757 ) ao Conselho de Quatro Terras judeu”.
A carta é a respeito de Yeshua, o Nazareno, um rabino haláchico observador da Torá, defendendo a escola rabínica de Hillel, o Ancião. Nesta carta ao rabinato Polonês, Rabi Emden estabeleceu o caso de que a formação da fé nazarena veio de um rabino judeu chamado Yeshua, o Nazareno. Yeshua, junto com os seus discípulos, nasceram e viveram suas vidas como judeus totalmente observantes.
Alguns dos discípulos (posteriores) desistiram da prática de viver a vida como um judeu observante. No entanto, eles permaneceram como judeus nazarenos. Porém, isso não diminui o fato de que o fundador original dos nazarenos viveu uma vida totalmente em conformidade com todas as leis prescritas na Torá que eram para ser vividas e praticadas para sempre por todo o povo judeu.
Rabbi Jacob Emden fala: “Mas o Nazareno e seus talmidim observavam o Shabat e a circuncisão como mencionado anteriormente, porque eles nasceram como judeus. Eles observaram a Torá totalmente, até que depois de um período de tempo (algumas décadas após) alguns deles (principalmente não-judeus) decidiram abandonar a Torá entre si completamente. Eles disseram que sua observância era muito difícil para eles e concordaram em retirar o seu jugo de sobre o seu pescoço”. [ Rabbi Jacob Emden, Seder Olam Tabbah Vezuta ( 1757)]
A vida de Yeshua de Nazaré a partir do momento de seu nascimento foi uma vida que foi vivida em plena conformidade com a vida da Torá. Os discípulos judeus aceitaram que a aliança da Torá judaica também foi sua aliança com D’us. No entanto, eles, como um “povo da aliança”, adorando juntos na Sinagoga Nazarena Hebraica que foi construída dentro da “Casa com o Cenáculo”, decidiram como uma congregação que “viver a vida da Torá” era um fardo sobre um gentio que queria acreditar no D’us de Israel.
Como Abraão e Noé, que viveram antes que a Torá fosse dada no Sinai, da mesma forma foi dada uma “Fé” com halachot separadas aos gentios que criam no D’us de Israel. Eles poderiam viver “pela fé” no D’us de Israel e seguir sete mandamentos distintos de D’us e, assim, serem capazes de se associar e adorar livremente com os escolhidos de D’us, o povo judeu.
Rabbi Jacob Emden fala: “Certamente, por isso, não há dúvida de que aquele que busca a verdade vai concordar com a nossa tese, que o Nazareno e seus talmidim nunca tiveram a intenção de abolir a Torá de Moisés de alguém que nasceu como judeu. Da mesma forma que Paulo escreveu em sua carta aos Coríntios (I Coríntios) que cada um deve aderir à fé em que cada um foi chamado.
Eles, portanto, agiram de acordo com a Torá, proibindo a circuncisão para os gentios, de acordo com a Halachá, já que eles não aceitaram o jugo dos mandamentos. Eles sabiam que seria muito difícil para os gentios observar a Torá de Moisés. Eles, portanto, proibiram a circuncisão (aos que não aceitavam o jugo da Torá), e bastaria que eles observassem os Sete Mandamentos de Noé, como foi ordenado a eles através da Halachá de Moisés no Sinai”. [ Rabbi Jacob Emden, Seder Olam Tabbah Vezuta ( 1757 )]
É incrível que, para um gigante rabínico que foi considerado como um dos mais rigorosos sábios judeus observantes da Torá da Europa, (aquele que castigou seus próprios colegas rabinos por não permanecerem fiéis à aliança com HaShem, o Deus de Israel), tenha tido palavras amáveis para dizer sobre Yeshua, o Nazareno, a quem ele compara com os sábios judeus.
Rabino Emden aceitava que a mensagem de Yeshua não veio como a de um rebelde judeu com a intenção de tirar, prejudicar ou diminuir as responsabilidades da aliança judaica com a Torá. Para Emden, Yeshua veio para fortalecer e cumprir a intenção divina da Torá, para trazer uma mensagem de que há um D’us da criação, que ama seu próprio povo e quer estabelecer um relacionamento pessoal, não apenas com judeus, mas com toda a humanidade.
Rabbi Jacob Emden fala: “O Nazareno trouxe uma dupla bondade no mundo. Por um lado, ele fortaleceu a Torá de Moisés majestosamente, como mencionado anteriormente, e nem mesmo um de nossos sábios falou mais enfaticamente sobre a imutabilidade da Torá do que ele. E, por outro lado, ele fez muita coisa boa para os gentios (fazendo com que eles não se voltem para viver seus desejos como quiserem, como alguns tolos fizeram porque não entenderam completamente a intenção dos autores dos Evangelhos.” [ Rabino Jacob Emden, Seder Olam Tabbah Vezuta ( 1757 )]
E eis aqui o seu notável fechamento: Rabbi Jacob Emden: “Vocês, os membros da fé nazarena, quão bom e agradável seria se vocês observassem aquilo que foi ordenado a vocês por seus primeiros professores; quão maravilhoso é a sua porção se vocês ajudassem os judeus na observância de sua Torá. Vocês realmente receberão recompensa como se vocês tivessem cumprido-a por si mesmos, porque a pessoa que ajuda os outros a observar é maior do que aquele que observa, mas não ajuda os outros a fazê-lo – mesmo que você só observe os Sete Mandamentos. Eu escrevi de forma semelhante em meu agradável trabalho Torar Ha-Kena’ot que o judeu que observa a Torá, mas não ajuda aos outros, é considerado entre os malditos, e os gentios que não observam os 613 mandamentos, mas ajudam os outros, é considerado entre os bem-aventurados”. [ Rabbi Jacob Emden, Seder Olam Tabbah Vezuta (1757)]