Por Tsadok Ben Derech
O Rabino Louis Ginzberg (1873-1953) escreveu a célebre obra “Legends of the Jews” (Lendas dos Judeus), que se trata de uma das mais conceituadas antologias de Midrashim presentes na literatura israelita. Cria o emérito Rabino que muitas lendas judaicas se desenvolveram em período bastante anterior à elaboração do Talmud e do Midrash, razão pela qual elaborou profunda pesquisa compilando importantes fontes judaicas, o que resultou no seu aclamado trabalho, que é considerado pela comunidade judaica como verdadeira obra-prima.
Em relevante trecho do livro, é narrada uma conversa entre o ETERNO e a Torá, sendo que esta é considerada uma emanação da própria sabedoria de YHWH. Ou seja, a Torá não é um ente abstrato e impessoal, mas sim uma manifestação do ETERNO, já que a Torá é a Palavra de Elohim.
No diálogo citado, a Torá demonstra a YHWH que está pessimista em relação ao mundo terreno em razão dos inúmeros pecados dos homens, e que estes ignorariam suas mitsvot (mandamentos). Mas ADONAI responde afirmando que daria aos homens a oportunidade de corrigir seus caminhos por meio do arrependimento, e que o serviço do Templo teria poder expiatório. Se não bastasse, prossegue o ETERNO declarando que foram criados o Paraíso e o Inferno para cumprir os seus respectivos papéis, isto é, recompensar e punir. Dizendo de outro modo: aqueles que se arrependessem de seus pecados e obtivessem expiação pelo serviço no Templo seriam recompensados no Paraíso, caso contrário, seriam punidos no Inferno. Por fim, destaca o ETERNO que quem foi nomeado para trazer salvação é o Mashiach!!!
Eis o texto em questão:
“No princípio, dois mil anos antes do céu e da terra, sete coisas foram criadas: a Torá escrita com fogo preto no fogo branco, e deitada no colo de Deus; o Trono Divino, erguido no céu, que mais tarde esteve por cima das cabeças das Hayyot; o Paraíso no lado direito de Deus, o Inferno no lado esquerdo; o Santuário Celestial diretamente na frente de Deus, tendo uma joia em seu altar gravada com o nome do Messias, e uma voz que clama: ‘Retornai, filhos dos homens’ [Nota de rodapé faz menção ao Salmo 90]
Quando Deus deliberou sobre a criação do mundo, tomou conselho com a Torá. [Nota de rodapé: “A Torá é concebida como uma emanação da sabedoria de Deus”]
O conselho dela [a Torá] foi este: ‘Ó Senhor, um rei sem um exército e sem cortesãos e criados mal merece o nome de rei, pois ninguém está perto de expressar a homenagem que lhe é devida’. A resposta agradou a Deus sumamente. Assim, ele ensinou a todos os reis terrenos, por Seu exemplo Divino, que nada empreendessem sem primeiro consultar conselheiros. [Nota de rodapé afirma que, tal como Deus consulta a Torá e a sua corte celestial de anjos, também os reis humanos devem consultar seus conselheiros].
O conselho da Torá foi dado com algumas reservas. Ela estava cética sobre o valor do mundo terreno por conta do pecado dos homens, que seria certo que ignonariam seus preceitos. Mas Deus dissipou suas dúvidas. Ele disse a ela que o arrependimento havia sido criado muito antes, e os pecadores teriam a oportunidade de consertar seus caminhos. Além disso, o serviço do Templo seria investido com poder expiatório, e o Paraíso e o Inferno foram destinados para realizar a função de recompensa e punição.
Finalmente, o Messias foi nomeado para trazer a salvação, que poria fim a toda pecaminosidade”[1].
O Midrash é claro como a luz do dia: o Mashiach é quem traz salvação!
Trata-se de conceito israelita e que foi adotado explicitamente na B’rit Chadashá com base na Torá:
Devarim/Deuteronômio 18:18-19:
“Do meio de seus irmãos lhes suscitarei um profeta semelhante a ti; e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.
E de qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu exigirei contas”.
Matay/Mateus 10:32-33 (Palavras de Yeshua HaMashiach):
“Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus.
Mas qualquer que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus”.
Lukas 10:16 (Palavras de Yeshua HaMashiach):
“Quem vos ouve, a mim me ouve; e quem vos rejeita, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou”.
Yochanan/João 3:16-19 (Palavras de Yeshua HaMashiach):
“Porque Elohim amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Elohim enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Elohim.
E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más”.
Yochanan/João 3:36 (Palavras de Yeshua HaMashiach):
“Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Elohim”.
Yochanan/João 5:22-24 (Palavras de Yeshua HaMashiach):
“Porque o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o julgamento,
para que todos honrem o Filho, assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.
Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida”.
Yochanan/João 5:45-47 (Palavras de Yeshua HaMashiach):
“Não penseis que eu vos hei de acusar perante o Pai. Há um que vos acusa, Moshé [Moisés], em quem vós esperais.
Pois se crêsseis em Moshé [Moisés], creríeis em mim; porque de mim ele escreveu.
Mas, se não credes nos escritos, como crereis nas minhas palavras?”
[1] Louis Ginzberg, Henrietta Szold, e Paul Radin, Legends of the Jews, 2nd ed. (Philadelphia: Jewish Publication Society, 2003), xxiv–1.