Por Tsadok Ben Derech
Maimônides:
“Tudo pode estar no controle do ETERNO, exceto o livre arbítrio.”
Yehudá HaLevi:
“Se as ações humanas são pré-determinadas pelos Céus, quem serve a Deus não estaria em melhores condições que os que se rebelam contra Ele, pois ambos estariam de acordo com o propósito para o qual foram criados.
(…)
Se o conhecimento Divino fosse o fator causal das ações humanas, os justos teriam seu lugar garantido no Paraíso sem terem servido a Deus, e os malvados iriam ao Guey-Hinom mesmo sem ter pecado”.
Bereshit Rabá XXII, 6:
“Se o seu impulso procura incitá-lo a uma conduta leviana, você deve bani-lo com as palavras da Torá. Não diga que você não tem controle, pois Eu [Elohim] lhe declarei nas Escrituras: o ‘seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo’ ´(Gn 4:7).”
Flávio Josefo (Antiguidades, XVIII, i, 3):
“Quando eles [os fariseus] dizem que todas as coisas dependem do destino, eles não lançam fora dos homens a liberdade de agir tal como pensam; uma vez que a sua noção é de que agradou-se Deus em misturar os decretos do destino com a vontade do homem, para que o homem possa agir virtuosamente ou viciosamente”.
Abraham Cohen:
“ ‘Tudo está nas mãos do Céu [YHWH], exceto o temor ao Céu [YHWH]’ (Berachot 33b), o que significa que, embora Deus decida o destino do indivíduo, lhe é feita uma ressalva com respeito ao caráter moral de sua vida”.
Talmud Bavli, Makot 10b:
“No caminho no qual o homem decide andar ele é guiado”.
Talmud Bavli, Yoma 39a:
“Se um homem corrompe a si mesmo um pouco, [Elohim] o corromperá em muito; se ele se corrompe aqui embaixo, [Elohim] o corromperá acima; se ele se corrompe neste mundo, [Elohim] o corromperá no mundo vindouro. Se o homem se consagrar [ao ETERNO] pouco, [Elohim] o consagrará muito; se ele se consagrar [ao ETERNO] aqui embaixo, [Elohim] o consagrará acima; se ele se consagrar [ao ETERNO] neste mundo, [Elohim] o consagrará no mundo vindouro”.
Talmud Bavli, Shabat 104a:
“Se um homem corrompe a si mesmo, aberturas são feitas para ele; e se ele purifica a si mesmo, ajuda lhe é conferida”.
Tsadok Ben Derech:
“Apesar de Elohim estar no controle de todas as coisas, ensinavam os p’rushim (fariseus) que ‘depende de nós fazer o bem ou o mal’ (Josefo, ob.cit., pg. 1134), ou seja, enfatizavam o livre arbítrio do ser humano. Em sendo o judaísmo rabínico sucessor do movimento farisaico, vale citar o pensamento de Moshé Ben Maimon (conhecido como Maimônides), que possui viés nitidamente parush:
‘A liberdade de escolha foi dada a cada homem: se ele decide tomar o caminho das boas obras e da justiça, tal habilidade já está em seu poder; e se ele decide tomar o caminho da maldade, a habilidade para tal também já está em seu poder.
Este conceito é o princípio fundamental e um pilar para a Torá e seus mandamentos. Se D’us decretasse que uma pessoa seria boa ou ímpia antes de sua existência, ou se existisse alguma coisa pré-determinada nos céus que influenciasse a pessoa a tomar um certo caminho na vida, como D’us poderia nos dar mandamentos através dos profetas tais como ‘façam isso’ e ‘não façam aquilo’? Que lugar a Torá teria em nossas vidas? E por qual critério de justiça D’us puniria o ímpio e recompensaria o justo?’ (Mishnê Torá, Teshuvá 5:1-3).
De igual modo, Yeshua enfatizava a liberdade de escolha do homem em optar por qual caminho a seguir. O Salmista falou que existem dois caminhos, devendo o homem decidir por trilhar o caminho do justo ou o do ímpio (Tehilim/Salmos 1, na íntegra). Yeshua também usa a mesma figura de linguagem (“o caminho”):
‘Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. E porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.’ (Matityahu/Mateus 7:13-14).
E qual é o caminho que leva à vida? É a Torá!!!
‘Felizes são aqueles cujo caminho da vida é irrepreensível, que vivem pela Torá de YHWH.’ (Tehilim/Salmos 119:1).
Infere-se das lições do Mashiach que este acreditava que o homem tinha a liberdade de escolher qual o caminho a seguir, ou seja, o Mashiach ensinou o conceito farisaico de livre arbítrio. A predestinação ensinada pelos calvinistas é totalmente contrária às Escrituras.
À luz do Judaísmo farisaico, defendido por Yeshua, o ETERNO está no controle de tudo o que se passa no mundo, quer seja dos homens quer seja dos animais. Não obstante, esta soberania de YHWH não exclui o livre arbítrio humano. É o que consta da Mishná:
‘Tudo está previsto, e o homem tem o seu livre arbítrio.’ (Avot 3:19).
Mister citar o comentário de Irving M. Bunin acerca do referido texto de Avot:
‘Na realidade, Rabi Akiva toca num dos problemas mais espinhosos da teologia judaica: a onisciência ou o conhecimento prévio do Todo-Poderoso versus livre-arbítrio do ser humano. Quando dizemos que Ele sabe tudo, queremos dizer não somente o passado e o presente, mas também o futuro – antes que ele ocorra. Para muitos, isto conflita com o livre-arbítrio humano. Se o Todo-Poderoso já sabia ontem que eu iria pecar, então que outra escolha eu poderia ter? Minha ação não está predestinada? Na nossa Mishná, Rabi Akiva afirma que ambos os princípios ocorrem.
O judaísmo, diz ele, aceita tanto a onisciência Divina quanto o livre-arbítrio humano. Como diz o Documento Sagrado: ‘Eu coloquei diante de ti a vida e a morte, a benção e a maldição; portanto, escolhe a vida’ [Devarim/Deuteronômio 30:19]. O Eterno já sabe qual será sua escolha e, no entanto, por mais paradoxal que isto possa parecer, você tem plena liberdade de opção.’ (Ética do Sinai, 2009, página 185).
Yeshua, seguindo a linha farisaica, destacou o livre arbítrio do homem para escolher o bem ou o mal em inúmeras passagens. Fez a distinção, por exemplo, entre a árvore que dá o bom fruto e a que dá o mau fruto (Matityahu/Mateus 12:33-37). Na parábola do semeador, a semente em terra boa representa a pessoa que ouviu e optou por obedecer aos mandamentos (Matityahu/Mateus 13:1-23). Em sentido idêntico, ressalta-se a distinção entre os obedientes e os desobedientes nas parábolas do trigo e do joio, do tesouro escondido, da pérola, e da rede que apanha peixes bons e peixes ruins (Matityahu/Mateus 13:24-30 e 36-50). Sobre o livre arbítrio, confira-se ainda, por exemplo, Matityahu/Mateus 1:17; 7:24-27; Yochanan/João 3:16-19; 11:25; 14:21 e 23”.